Os perigos do vício em pornografia
Se você me perguntasse 10 anos atrás se pornografia era alguma coisa perigosa, eu diria que não. Hoje, pornografia é pior que cocaína. É mais fácil tratar um viciado em cocaína do que um viciado em pornografia.
O Crescente Problema da Pornografia
O Aumento dos Casos no Consultório do Vício em Pornografia
Hoje, o problema da pornografia é generalizado. No consultório, observo a estreita associação entre o vício em pornografia e o tédio. Isso significa que, sem pornografia, a pessoa pode até evitar bater uma [masturbação], mas com pornografia, toda hora que ela estiver entediada, ela acessa e se envolve. O indivíduo não está fazendo isso porque está com tesão, mas porque está entediado e busca uma liberação de dopamina no cérebro.
Faz porque é fácil, rápido e sem custo algum. Basta abrir a internet e acessar um farto acervo disponível para todos os gostos.
A Relação Entre Tédio e Vício em pornografia
Dopamina e o Papel do Tédio nos vícios em geral
A dopamina é liberada quando a pessoa está entediada, e é isso que ativa o comportamento viciante. Esse vício pode ser qualquer comportamento que envolve dependência, basicamente ativado por duas coisas: tédio e o estímulo de querer aquilo. Muitas vezes, as pessoas buscam uma droga porque viram alguma pista ambiental que as relaciona a buscar aquela droga.
Pode ser alguém que acende um cigarro. Pode ser uma garrafa de cerveja vazia na lixeira. Pode ser ao andar na rua e passar em frente a um boteco. No caso da pornografia, pode ser um reels de uma bunda rebolando em sua frente. Todas essas "pistas" servem de gatilho para um comportamento que se perpetua.
O Contexto do Vício em pornografia
O vício é extremamente contextual. Por exemplo, quem tem problema com álcool vai sentir vontade de beber quando estiver com um amigo que também bebe, ou em um bar. O cérebro é capaz até de calcular o tempo; sexta-feira chega e a pessoa já sente vontade de beber.
Pornografia: Um Problema Relacionado ao Cérebro
Como a Pornografia Afeta o Cérebro
A pornografia afeta as mesmas regiões do cérebro que outras drogas. Ao ver uma pista, como uma pessoa atraente em redes sociais, o cérebro ativa uma área chamada de área tegumentar ventral. Essa área é responsável por liberar dopamina, que gera motivação para acessar pornografia.
Neuroplasticidade e Vício
Quando a dopamina é liberada, ela se conecta a uma região chamada núcleo acumbente e ao estriado ventral. Com o tempo, essa liberação constante de dopamina altera o cérebro por um processo chamado neuroplasticidade, que muda a forma como o cérebro funciona e leva à dependência.
Como o Vício se Torna Automático
Vício e Hábito no Cérebro
Um ponto importante é que o vício e o hábito compartilham as mesmas regiões no cérebro. O vício se torna um super hábito, algo que você faz automaticamente sem conseguir controlar. Assim como você pode dirigir um carro sem prestar atenção em cada ação, o vício em pornografia pode se tornar algo automático.
O Papel do Córtex Pré-Frontal
O córtex pré-frontal é a parte do cérebro responsável por frear nossos comportamentos. Com o tempo, o vício diminui a capacidade inibitória do córtex pré-frontal, o que torna mais difícil controlar o desejo de acessar pornografia ou algo do qual nos tornamos viciados.
Impacto Funcional e o Ciclo Vicioso
A Redução dos Receptores de Dopamina
Estudos mostram que, com o uso prolongado, os receptores de dopamina no cérebro diminuem, o que significa que a pessoa precisa de mais dopamina para sentir o mesmo prazer. Isso cria um ciclo vicioso, onde a pessoa precisa de mais estímulo e tem menos capacidade de controlar o comportamento.
No caso da bebida alcoólica, a pessoa passa a utilizar doses cada vez maiores. Já na pornografia, começa a buscar estímulos diferentes e às vezes mais intensos ou bizarros, podendo culminar inclusive na parafilia (o que passa a ser um problema ainda maior).
Parafilias são fantasias ou comportamentos frequentes, intensos e sexualmente estimulantes que envolvem objetos inanimados, crianças ou adultos sem consentimento, ou o sofrimento ou humilhação da pessoa ou do parceiro.
Pornografia Como Uma Droga
Pornografia pode ser considerada uma droga do ponto de vista de como o cérebro responde a ela. Os mesmos sistemas envolvidos no vício de drogas como cocaína também estão presentes no uso problemático da pornografia. Isso pode causar prejuízos funcionais graves, como dificuldades no trabalho e nos relacionamentos.
Para um aprofundamento à respeito dos vícios e do por quê algumas pessoas utilizarem drogas como Ayahuasca, sugiro a leitura desse post.
Mensagem final
O vício em pornografia é um problema crescente, com impactos significativos no comportamento e nas funções do cérebro. Assim como outros vícios, ele envolve uma complexa interação entre estímulos externos, liberação de dopamina e a formação de hábitos automáticos, que tornam difícil para a pessoa controlar suas ações. O desafio é que, à medida que o uso de pornografia aumenta, o cérebro se adapta, e a capacidade de frear esse comportamento diminui.
Vou deixar a indicação de dois livros que abordam esse tema de forma brilhante:
"Nação Dopamina: Por que o excesso de prazer está nos deixando infelizes e o que podemos fazer para mudar" é um livro escrito por Anna Lembke, uma psiquiatra e especialista em dependências. A obra explora a relação entre o prazer, a dopamina (o neurotransmissor associado ao prazer) e a epidemia de dependências modernas, que vão desde substâncias até comportamentos, como uso excessivo de tecnologia.
Resumo dos principais pontos do livro:
O papel da dopamina: Dra. Lembke explica como a dopamina é fundamental para a sensação de prazer e motivação, mas alerta que o consumo excessivo de prazeres instantâneos pode levar a uma desregulação desse sistema, resultando em um ciclo vicioso de busca por mais prazer.
A cultura do prazer: O livro discute como a sociedade contemporânea prioriza a busca por prazer imediato e gratificação instantânea, o que pode nos afastar de experiências mais significativas e profundas.
Consequências da busca por prazer: A autora argumenta que a sobrecarga de estímulos prazerosos resulta em aumento da ansiedade, depressão e solidão, contribuindo para a infelicidade geral.
Caminhos para a mudança: Lembke propõe estratégias para restaurar o equilíbrio, incluindo a prática da abstinência, a busca por prazeres mais saudáveis e sustentáveis, e a valorização de conexões sociais e experiências significativas.
Estudos de caso e evidências: O livro é enriquecido com relatos de pacientes e pesquisas que ilustram os impactos negativos do consumo excessivo de prazer, além de fornecer uma base científica para as ideias apresentadas.
"Nação Dopamina" é um convite à reflexão sobre nossas escolhas de vida e a busca por um equilíbrio saudável entre prazer e bem-estar. A autora fornece insights sobre como podemos reavaliar nossas relações com os prazeres e encontrar um caminho mais satisfatório e significativo na vida.
Outro livro também muito interessante para aprender a lidar com o vício em pornografia ou busca incessante pelo prazer é esse:
"Vício: O Reino dos Fantasmas Famintos", um livro escrito por Gabor Maté, um médico e especialista em dependências, que oferece uma análise profunda e compassiva sobre o vício e suas origens. Maté combina pesquisa científica com experiências pessoais e profissionais para explorar a natureza complexa da dependência, desafiando estigmas e preconceitos frequentemente associados a pessoas viciadas.
Resumo dos principais pontos:
A natureza do vício: Maté argumenta que o vício não é simplesmente uma questão de moralidade ou fraqueza de caráter, mas uma condição profundamente enraizada em fatores biológicos, psicológicos e sociais. Ele apresenta o vício como uma resposta a dores emocionais e traumas não resolvidos.
Fatores de risco: O autor discute como experiências adversas na infância, como abuso, negligência e trauma, contribuem para a formação de vícios na vida adulta. Ele enfatiza que esses "fantasmas famintos" se alimentam da dor emocional, levando os indivíduos a buscar alívio através de substâncias ou comportamentos.
A relação entre mente e corpo: Maté explora a conexão entre a saúde mental e física, sugerindo que o vício está frequentemente ligado a problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade. Ele enfatiza a importância de abordar esses problemas de forma holística para promover a recuperação.
Caminhos para a recuperação: O livro propõe uma abordagem compassiva e baseada na compreensão para a recuperação, enfatizando a necessidade de apoio emocional, terapia e conexão social. Maté defende que o tratamento deve focar nas causas subjacentes do vício, em vez de apenas tratar os sintomas.
Desafios e estigmas: Maté critica o estigma associado ao vício e a forma como a sociedade tende a marginalizar aqueles que lutam contra a dependência. Ele destaca a importância de uma mudança de perspectiva, considerando os viciados como indivíduos que necessitam de compaixão e compreensão.
"Vício: O Reino dos Fantasmas Famintos" oferece uma visão abrangente e empática sobre a dependência, desafiando as percepções tradicionais e apresentando um caminho para a recuperação que se concentra na cura emocional e na compreensão. A obra de Maté é uma leitura essencial para profissionais de saúde, familiares e todos que buscam entender melhor o complexo fenômeno do vício.
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