Por que as pessoas buscam a ayahuasca?
A pergunta mais ampla deve abordar não somente a Ayahuasca, mas qualquer outra substância psicodélica.
Ayahuasca & as substâncias psicodélicas
Talvez a melhor pergunta deveria ser: o que as pessoas ganham ao buscar uma substância psicodélica?
Para responder a essa pergunta não basta nos perguntarmos o que há de errado na vida da pessoa que levou ela a tomar essa decisão.
Temos de nos perguntar o que a pessoa obtém quando fuma um baseado ou bebe um chá de Ayahuasca?
O que um ser humano ganha ao utilizar um psicodélico, qualquer que seja ele?
O que elas conseguem ali que não alcançam em outros lugares?
Pode ser uma sensação de paz, de auto-controle, alívio da dor ou uma sensação de calma que pode ser temporária.
Quem sabe o esquecimento temporário de um trauma? A reconciliação com o algoz? O perdão?
O que está faltando na vida de quem toma Ayahuasca e usa substâncias psicodélicas?
Mas existe uma questão central que permeia tudo isso: por que essas qualidades estão faltando na vida dessas pessoas? O que aconteceu na vida delas?
Para algumas pessoas, o que falta é alguém que as acolha e ouça. Talvez seja a sensação de pertencimento gerada pelo grupo. De estar rodeado de pessoas com as mesmas feridas na alma.
Naguib Mahfouz percebeu isso ao dizer:
“Nothing records the effects of a sad life so graphically as the human body”.
“Nada registra os efeitos de uma vida triste tão graficamente quanto o corpo humano”.
Ayahuasca e os traumas mal resolvidos
Por mais que tentemos esconder, nosso corpo revela muito sobre o nosso passado e presente.
Todos nós em algum momento podemos perder algo na vida. Podemos perder dinheiro, saúde, beleza, um dente (ou vários), os cabelos, um emprego, um companheiro, os amigos, irmãos e familiares… Tudo isso fica registrado em nossa pele. Nem o melhor ator consegue fingir brilho onde só há um sorriso amarelo.
Perder algo é parte da vida. No fundo, o medo da mudança é que nos apavora. Por isso muitos encontram refúgio na religião, outros em terapias, no trabalho e outros em grupos que utilizam substâncias psicodélicas.
Quando uma pessoa chega a dizer que não tem mais "medo de morrer, mas sim de viver” a primeira pergunta que vem à mente é: por que?
Por que tantas pessoas estão com medo da vida? Medo de viver? Medo de sofrer?
Qual a origem do sofrimento humano?
A palavra em sânscrito que significa sofrimento (ou dor) é Duḥkha. Em última análise, sofremos por querermos algo que não temos, por medo de perder algo que conquistamos e por querermos nos livrar de algum desconforto.
Nosso velho padrão mental está sempre em busca de sensações que nos agradem. Ao mesmo tempo, sempre fugimos das sensações que nos desagradam.
O que buscamos em um psicodélico é uma sensação. Pode ser o adormecer da realidade. O esquecer que um chá, bebida ou uma tragada podem oferecer. O alento de não sermos nós mesmos ao menos por algumas horas. O desejo de escapar das garras da própria mente.
R.D Laing concluiu muito sabiamente que:
“There are three things human being are afraid of: death, other people, and their own minds.”
Existem três coisas das quais o ser humano tem medo: a morte, outras pessoas e suas próprias mentes.”
Eu nunca utilizei Ayahuasca em minha vida, mas sei como ninguém que por muito tempo eu tentei distrair-me da minha própria mente, com medo de ficar sozinho com ela. Eu tentei me distrair com festas, músicas, bebida, sexo, namoradas, amantes, maconha, fazendo compras fúteis e desnecessárias, vagando pela internet em sites pornôs, comendo doces e sorvetes. Existem infinitas maneiras de se fugir da realidade.
Pode ser difícil de assumir isso, mas esse é um comportamento de alguém viciado. Segundo o Dr. Garbor Mate, "vício é qualquer comportamento que lhe dê alívio temporário e prazer temporário, mas que no longo prazo gera problema, desconforto, prejuízo, consequências negativas e ainda assim você não consegue parar".
Todos nós temos algum vício insaciável que nos queima por dentro. Por pura ignorância tentamos preencher esse vazio interno com tudo o que vem de fora. Contudo, se quisermos descobrir porque estamos em sofrimento, não adianta olharmos para a genética, precisamos olhar para a própria vida.
É hora de encarar a realidade como ela é, ainda que seja doloroso como arrancar um esparadrapo da pele.
Examinar a própria vida pode ser doloroso. A lembrança de um abuso físico ou mental. Abandono. Trauma emocional e tantos outros. Somos o resultado da interação do nosso cérebro com o ambiente. Nenhuma substância tem o poder de remodelar nosso ambiente familiar ou nos fazer voltar no passado e modificar um ambiente hostil que vivemos na infância ou adolescência.
Um trauma tem força o suficiente para desencadear um modo de funcionamento cerebral alterado (disfuncional) no sistema de endorfina. Isso repercute na vida adulta. A falta de amor e conexão na infância não permite o desenvolvimento apropriado desses circuitos cerebrais.
Então, uma vez que entramos em contato com agentes externos podemos sentir alívio, conforto, diminuição da dor, conexão, acalento como o de uma mãe abraçando um bebê. Mas a verdade é que esse é apenas um alívio temporário. Não tratamos os nossos traumas quando deixamos de pensar neles ou nos distraímos com um belo pedaço de torta holandesa, um baseado ou um copo de chá de santo daime.
Nossa mente é insaciável. Mesmo sem conseguimos digerir nossa própria vida queremos buscar experiências extraordinárias. Desejamos ver além daquilo que pode ser dito, crer e se surpreender com tudo aquilo que não pode ser justificado pela razão, queremos cruzar todas as fronteiras do banal ao profundo em milésimos de segundo, mudar a concepção da realidade, o status quo, vida e morte.
Buscamos uma ruptura completa que envolva o menor esforço possível. Um arrebatamento extático, um salvador que possa aplacar o tédio da nossa própria existência. Queremos ter a certeza de que Deus existe (ou não?), explorar os confins desse universo, para quem sabe tudo volte a fazer sentido, ou não?
Ayahuasca não liberta a mente e talvez a prenda ainda mais
Nossa mente corre de um lado para outro, como um animal selvagem que acabou de ser preso na gaiola.
Quando não entrarmos em contato com o nosso próprio vazio interior, passamos isso adiante e geramos trauma em nossos filhos e parentes mais próximos. Preferimos ignorar nossos próprios problemas e focar nos males do mundo (do coverno, do sistema opressor, do patriarcado, da civilização, da raça humana e coloque aqui sua queixa favorita).
Trocar a palavra #alucinógeno por #enteógeno equivale a fingir que as formas de vício diferentes das nossas são piores. Quem bebe álcool se sente menos viciado do que quem bebe o chá de Ayahuasca. Quem fuma cigarro se sente superior moralmente àquele que fuma crack. A obesa olha com desdém todos os 4 acima discutindo nos comentários de um vídeo qualquer no YouTube, enquanto come o décimo pedaço de bolo com cobertura de chocolate.
Não importa saber em que você está viciado, mas sim descobrir qual é o vazio que você está tentando preencher. Porque uma vez que encontramos o poder dentro de nós, não há nada no mundo externo que nos faça falta.
É possível encontrar bondade, generosidade, caridade, luz, amor e fraternidade fora da religião, fora de uma seita, fora de um culto e sem a necessidade de qualquer substância, objeto ou posição social. Porém o caminho que leva até esse estado de espírito invariavelmente passa pelo auto-conhecimento.
Se formos capazes de enxergar nossa própria natureza, o contraste entre nossa luz e sombra, poderemos atrair as pessoas que também estejam comprometidas com o auto-conhecimento e com um mundo melhor. Estar em companhia de pessoas com uma mentalidade de crescimento terá uma influencia muito mais poderosa sobre nós do que qualquer substância nesse mundo.
De que adianta uma pessoa que está tentando parar de fumar, utilizar adesivos de nicotina com bupropiona, mas continuar a frequentar o mesmo barzinho de sempre, com os mesmos amigos, que fazem a mesma coisa que ela está tentando parar de fazer?
Concluindo
Quando se trata de um vício, o mais importante é descobrir o por quê. Tem um livro que pode te ajudar a responder algumas dessas perguntas que sua alma anda buscando:
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