7 de set. de 202215 min para ler

O que é Panchakarma?

Conheça esse grupo de procedimentos do Ayurveda, suas indicações e contra-indicações.

Por que o Ayurveda é tão especial?

Certa vez me perguntaram por que eu decidi estudar #Ayurveda mesmo já tendo feito 6 anos de #Medicina na faculdade, 2 de residência de Acupuntura, além das pós-graduações em Dor, Emergência e Terapia Intensiva. A resposta está no tema de hoje: Panchakarma (também escrito/ transliterado como Pañcakarma)

Até o momento, ainda não conheci uma metodologia tão bem elaborada e segura (quando feita por bons profissionais) para a limpeza do Trato Gastro Intestinal, do corpo e da mente.

Dentro do #Ayurveda descobri que, há mais de 2.000 anos, pessoas já estavam realizando diagnósticos bastante precisos para os parâmetros da época e mesmo para os padrões atuais. Estudei as descrições sobre os problemas urinários e a relação com o Diabetes, as doenças do fígado e sua relação com o sangue, além de tantas outras Síndromes e problemas de saúde que são vistos de uma forma diferente e peculiar tanto na forma de diagnosticar quanto de tratar.

Os métodos de diagnóstico do Ayurveda são únicos

Ao estudar o Madhava Nidana (livro clássico do Ayurveda que fala sobre a etiologia e diagnóstico das doenças) percebi que estava diante de uma ciência médica de fato que merecia respeito e quis me aprofundar. Na época que o Ayurveda surgiu em minha vida, estava passando por diversos desafios com a minha saúde e decidi colocar em prática aquilo que estava aprendendo. Um dia ainda conto sobre esses desafios, por enquanto quero falar que o fato de existir um livro que nos dá informações sobre as CAUSAS de diversos problemas de saúde.

Não há informações somente sobre quadros de doenças já estabelecidas, mas sinais e sintomas que surgem MUITO antes! Ou seja, podemos intervir e prevenir o surgimento de problemas de saúde adotando práticas diárias de alimentação, atividade física, sono e estilo de vida. Infelizmente, a maioria das pessoas chega até o Ayurveda com quadros de doenças avançadas, muitas vezes não obtiveram a melhora desejada com a Medicina convencional (Alopática) e querem saber se há algo mais que possa ser feito.

Em alguns casos específicos o Panchakarma pode ser uma opção de grande ajuda, mas ainda assim o melhor sempre será a prevenção, tratamento precoce e a correção/ modificação dos hábitos que contribuem para o problema de saúde.

Percebi, ao estudar e me submeter a um #Panchakarma que, embora eu não tivesse todas as respostas médicas e científicas para explicar o que estava acontecendo (de acordo com a Medicina Baseada em Evidências), muitas doenças eram ´´silenciadas´´ de forma muito rápida.

Após passar pelo processo e concluir meu primeiro Panchakarma eu senti meu corpo leve como nunca, meu apetite e digestão estavam muito melhores, os odores corporais estavam mais suaves ou inexistentes, o hálito havia melhorado, a mente estava mais clara, a disposição ao acordar era nítida, meu sono era totalmente restaurador, o vigor físico e sexual aprimorados, enfim, foram tantas coisas acontecendo após um único #Pañcakarma que decidi, a partir daquele momento, realizar anualmente esse procedimento.

Não digo que seja algo simples se submeter a um Panchakarma, pois de fato exige bastante comprometimento e coragem, ambiente e condições apropriados e também algumas plantas medicinais que não são encontradas tão facilmente aqui no Brasil.
Não é fácil como muitos podem pensar, exige coragem, esforço, dedicação, observação contínua do próprio corpo, da digestão, da mente e das emoções.
Não é barato, pois envolve tempo dedicado exclusivamente para essa atividade (ou seja, não dá para fazer um Panchakarma enquanto trabalha, viaja ou realiza outras atividades) e o custo cobrado pelo centro que realiza o Panchakarma (que precisa gastar com os óleos medicados, plantas medicinais, terapeutas, cozinheiros, equipe de limpeza, etc.).

Ainda assim, para muitas pessoas é um investimento que vale a pena. Caso um dia você tiver a oportunidade de se presentear com um programa bem feito de Panchakarma não deixe de vir aqui e me contar como foi!

Chegou a hora então de contar para você em que consiste um Panchakarma

Pancha em sânscrito significa o número 5 e Karma pode ser traduzido como Procedimento ou Ação, ou seja, são 5 procedimentos ou ações que são executadas com o intuito de purificar o organismo humano por diferentes vias. A pessoa não precisa necessariamente passar pelos cinco procedimentos, pois a terapia é individualizada e feita de acordo com as necessidades de cada um. Os cinco procedimentos são:

Vamana (Êmese);
Virechana (Purgação);
Basti (Enema);
Nasya (Medicamentos pela via nasal);
Raktamokshana (Sangria e punção venosa);

Antes de descrever em detalhes em que consiste cada um deles é preciso deixar claro que o Panchakarma não deve ser realizado de forma ambulatorial, sem o acompanhamento integral e contínuo da pessoa durante todo o processo. O médico responsável deve saber as indicações, contraindicações, possíveis efeitos adversos e como trata-los prontamente. Além disso, deve ser seguido de terapias de "rejuvenescimento" (Rasayana) para nutrir e restaurar as células após todo o processo catártico das eliminações.

Confira agora os cinco procedimentos do panchakarma em detalhes:

1) Vamana (Êmese)

Em geral, esse é um dos primeiros procedimentos a serem aplicados. Ele promove uma limpeza da região do Trato Digestório Superior (Estômago e primeira porção do Duodeno), e das Vias Aéreas (superiores e inferiores). Destina-se principalmente para pessoas com desequilíbrio #Kapha, que apresentam tendência a acumular muco na região da garganta, seios da face, pulmões, infecções de vias aéreas de repetição, asma, digestão lenta e pesada, doenças de cabeça e pescoço.

Quando um Vamana não deve ser feito?

Não se deve fazer o Vamana em pacientes grávidas ou sempre que houver quadro de fraqueza, desnutrição, debilidade, Síndromes de má absorção, constipação, parasitoses, febre, idade avançada, hematêmese (vomito com sangue), obesidade mórbida, crianças menores de 10 anos, hipertensão, angina, doença arterial coronariana, história prévia de revascularização do miocárdio, em pessoas que têm aversão ou medo de vomitar entre outros.

*Antes de fazer o #Vamana a pessoa deve fazer um processo chamado de Snehana (oleação) ingerindo doses progressivas de óleo de gergelim, ghee e/ou outras substâncias gordurosas até a saturação durante 3 a 7 dias (em alguns casos pode durar mais tempo). Na noite anterior ao Vamana propriamente dito (somente na noite anterior!) deve-se fazer uma refeição com predomínio de alimentos doces e/ou gordurosos tais como: mingau de arroz ou aveia, feijões como o black gram (feijão Masa), gergelim/ tahine, banana assada, queijos e carnes caso consuma esses alimentos.

**O Vamana é feito no período da manhã. Existem diversas substâncias que podem ser utilizadas para estimular o reflexo do vômito, uma das formas é ingerir 1,5 a 3L de um decocto de Alcçuz (Glycyrrhiza glabra) (alcaçuz fervido em água durante vários minutos) e uma pasta preparada com Cálamo ou Vacā (Acorus calamus), Madanaphala (Randa dumentorium) e/ou outros ingredientes ajustados de acordo com as indicações individuais de cada um. Observação: A quantidade de decocto pode ser fracionada e também é individualizada.

Após o Vamana a pessoa deve descansar e só voltar a comer após 4 a 5 horas uma sopa leve e rala de legumes ou arroz. Recomenda-se descansar durante todo o dia, evitando esforços físicos e só voltar à dieta habitual, lenta e gradualmente, ao longo dos dias subsequentes.

Como saber se o Vamana esta sendo conforme o esperado?

A administração adequada de um Vamana gera uma sensação de paz, leveza e conforto. Há aumento da acuidade dos sentidos (principalmente olfato e paladar), eliminação do excesso de muco, tornando a respiração mais livre e desobstruída em algumas pessoas, bem como alívio dos sintomas de alguns desconfortos digestivos, empachamanto, peso e desconforto abdominal, doenças crônicas de pele, entre outras.

Já nos casos de aplicação inadequada de Vamana, a pessoa que foi incapaz de vomitar adequadamente poderá se sentir pesada, letárgica e pode apresentar sintomas de prurido, ardência e aumento na quantidade de muco, bem como náusea e salivação.

2) Virechana (Purgação)

A terapia purgativa (ou diarreia terapêutica) tem o objetivo de fazer uma limpeza profunda do Sistema Hepatobiliar (Fígado e Vesícula) e do Intestino Delgado. É um componente importante do Panchakarma, sendo útil e bem indicado para quase todas as pessoas, principalmente para desequilíbrios de #Pitta #Dosha. Por exemplo, nos casos de doenças de pele de difícil tratamento, febres crônicas, doenças oftalmológicas, distúrbios digestivos, intolerâncias alimentares, má digestão, icterícia, doenças articulares, parasitoses intestinais, doenças do sistema Genito Urinário e constipação leve.

Essa terapia é contraindicada em pessoas muito debilitadas, emagrecidas, com diarreia, fadiga, fraqueza, saúde frágil, indigestão, prolapso ou laceração retal, febre aguda devido a infecções em atividade (faringo amigdalites ou pneumonias), gravidez, capacidade digestiva baixa/ fraca, entre outros casos.

*Assim como o Vamana, o Virechana é uma terapia potencialmente debilitante (pode ter efeitos adversos como a desidratação, por exemplo) e somente deve ser feita com supervisão e acompanhamento de um profissional Médico habilitado e com conhecimento para isso.

** O Virechana também deve ser precedido de um período (3-7 dias) de #Snehana (oleação) através da ingestão de doses progressivas de óleo até a saturação.

Existem diversas plantas medicinais que podem ser usadas para se fazer um #Virechana, dentre elas, destacam-se as seguintes: Óleo de Rícino / Eranda Taila (Ricinus comunis), Aragwadha (Cassia fistula), Trivṛt (Operculina turpethum), Triphala (Amalaki, Haritaki, Bibhitaki), Pippali (Piper longum), Jayapala (Croton tiglium) e Drākṣā/ uva passa (Vitis vinífera).

Dentre essas plantas o Trivṛt é considerado o melhor e mais seguro para a maioria das pessoas, a uva passa além de conferir um sabor agradável também possuem uma propriedade chamada Śīta (ou seja refrescante). Jaypala é considerada a mais forte, chamada de purgativo drástico, ideal para pessoas cronicamente constipadas ou quando se deseja realizar uma purgação forte.

O procedimento se inicia pela manhã (cerca de 2 horas após o nascer do sol) com a ingestão de um #decocto preparado com uma combinação de algumas das plantas medicinais descritas acima. Então, após cerca de 1-2h a pessoa inicia o processo de eliminação que pode durar de 4 a 5 horas e um total de 5 a 15 eliminações, aproximadamente.

* Durante a faze de eliminação a pessoa deve ingerir água e uma solução de reposição eletrolítica (água, sal, açúcar, gotas de limão) e deve se abster de ingerir alimentos sólidos.

** Após pararem as eliminações a primeira refeição é constituída apenas de um caldo ralo e suave de arroz (sem temperos), a segunda refeição (em geral à noite) pode ser feita com um creme de arroz com legumes e pouca quantidade de sal. É melhor evitar alimentos sólidos no dia da #purgação e nos dias subsequentes preferir alimentos leves e fáceis de digerir (exemplo Kitchari, sopas e caldos de legumes, mingau de arroz ou aveia, maçã ou pera cozidas). Da mesma forma que foi feito após o Vamana, o retorno à dieta habitual é lento e progressivo, passando pela consistência pastosa até chegar na sólida, sempre com alimentos cozidos (nunca crus).

Como saber se o Virechana foi bem aplicado?

Há uma sensação de leveza no corpo, melhora da atividade mental, cognitiva, sensorial e melhora do apetite, da fome, da digerstão e da absorção de nutrientes da alimentação.

Quando a pessoa sentir letargia, confusão mental, cefaleia, perda do apetite aumento do muco ou constipação, a terapia de purgação poderá ser feita novamente no dia seguinte.

3) Basti (Enema)

Basti é o procedimento que visa limpar e nutrir o Intestino Grosso. Existem dois tipos principais de Basti: Nirūha (preparação feita com decocto de plantas medicinais) e Anuvāsana ou Sneha (feitos com óleo, ghee ou outras substâncias gordurosas).

O Basti feito com decocto (Nirūhabasti) tem a função eliminativa, ou seja, de limpeza ou purificação. Já o Basti de óleo promove a lubrificação e proteção da mucosa intestinal, por isso ele é feito sempre antes e depois do #Nirūhabasti. Além de ser útil para uma variedade de doenças, esse procedimento também pode ser usado de maneira preventiva para a manutenção de uma boa saúde.

É ideal que se faça oleação corporal (#Abhyanga) e #Swedana (sauna ou procedimento que gere suor no corpo) antes de se realizar um Basti. Caso não se consiga realizar uma oleação externa (Abhyanga) e sudação (Swedana) do corpo, recomenda-se, ao menos, realizar a #oleação da região lombar baixa e abdominal, seguida de aplicação de bolsa de água quente em ambas as regiões antes de se realizar o #Basti.

A quantidade de Bastis necessários é individual, varia de pessoa para pessoa e deve ser definido pelo médico responsável pelo Panchakarma. Existem 3 modalidades principais:

Karma Basti (tratamento mais longo): consiste na aplicação de Anuvāsana e Nirūha alternadamente durante 24 dias, seguido de 6 dias seguidos de Anuvāsana Basti. Total de 30 dias.
Kala Basti (intermediário): 12 dias alternando Anuvāsana e Nirūha Basti, seguidos de 3 dias de Anuvasana Basti. Total de 15 dias de tratamento.
Yoga Basti (ciclo mais curto): 6 dias alternando Anuvāsana e Nirūha Basti, seguidos de 2 dias de Anuvasana Basti. Total de 8 dias de tratamento.

O procedimento é indicado principalmente para os desequilíbrios de #Vata #Dosha. Ajuda a aliviar sintomas como retenção de fezes, urina, redução do volume de sêmen, fraqueza, cansaço e diminuição da força, diminuição do brilho, elasticidade e turgor da pele, tremores, dor de ouvido, dor articular, constipação entre outros.

É contra-indicado em quadros de indigestão, cansaço ou emagrecimento extremo, imediatamente após Vamana ou Virechana, pessoas com soluço, dispneia, fome ou sede, obstrução ou perfuração intestinal, ascite, mulher que acabou de ter um parto prematuro, entre outros quadros que devem ser analisados individualmente.

*Em grávidas deve-se evitar realizar Bastis, ao menos até o oitavo mês de gestação.

4) Nasya

Esse procedimento é o que utiliza as narinas como via de acesso para administrar medicamentos. Utilizam-se óleos medicados (até mesmo óleo de gergelim puro ou ghee), suco fresco de determinadas plantas, decocto de folhas, cascas, frutos e raízes, bem como fórmulas específicas para determinadas doenças.

Algumas fórmulas de extração das plantas medicinais em óleo são bastante complexas, levam diversos ingredientes e são extremamente trabalhosas de se preparar. Veja por exemplo a lista dos ingredientes do Anu Tailam (preparação de acordo com o Carak Samhita - Sutrasthana 5/58-62):

Chandana/ Sândalo (Santalum album),

Aguru (Aquilaria Agalocha Roxb),

Patra (Cinnamomum tamala Nees and Eberum. ,

Casca de Darvi (sida cordifolia Linn),

Prapaunda rika (Nymphaea lotus Linn),

Sookshma Ela – cardamomo (Elettaria cardamomum)

Vidanga (Emblia ribes Brum. F),

Bilva (Aegle marmelos Corr),

Utpala (Nymphaea alba),

Hrivera (Pavania adorata),

Abhaya (Terminalia chebula)

Usheera/ Vetiver – (Vetiveria Zizanioides),

Vanya (Cyperus tenuiflours),

Tvak/ Canela verdadeira (Cinnamomum Zeylanicum),

Musta (Cyperus rotundus),

Sariva ou Anantamula (Hemidesmus indicus),

Sthira (Desmodium gangeticum),

Jivanti (Leptadenia reticulata)

Prishnaparni (Uraria Picta),

Suradaru (Cedrus deodara),

Shatavari (Asparagus racemosus),

Harenu (Pisum Sativum),

Brihati (Solanum indicum),

Vyaghri (Slanum xanthocarpum),

Surabhi/ Rasna (Pluchea lanceolata),

Padmakesara - Filamentos de lótus (Nelumbo nucifera).

É feito um decocto com óleo de gergelim para extrair o princípio ativo dessas plantas medicinais e o processo se repete por 10 vezes. Não fique impressionado com o número de repetições do procedimento, pois outras preparações, como o Ksheerbala 101, o processo é repetido por 101 vezes!

O propósito principal do #Nasya é o tratamento das doenças acima da clavícula, tanto internas (sistema auditivo, ocular, olfativo, gustativo e cerebral), quanto externas (doenças de pele, couro cabeludo, entre outras), ou seja, boca, mandíbula, pescoço, vias aéreas, couro cabeludo, ouvidos e cérebro. Além disso, o tratamento também possui efeitos sistêmicos e o procedimento pode fazer parte do tratamento da icterícia (pigmentação anormal amarela ou verde na pele, mucosa e nos olhos causado por níveis elevados de bilirrubina no sangue), por exemplo.

Segundo o Caraka-saṃhitā, Podemos fazer uso do #AnuTaila 3 vezes ao ano, em três estações diferentes: uma que precede a estação de chuvas mais intensas, outra no outono e por fim na primavera, quando o céu não estiver nublado.

Há descrição ainda de uma série de benefícios como a manutenção de uma boa visão, olfato e audição. Cabelos, barbas (no caso dos homens) se mantém fortes, firmes e com sua cor natural. Ao invés de cair, os cabelos irão crescer em abundância. Após o tratamento a pessoa poderá sentir alívio de sintomas de problemas como torcicolo, cefaléia, paralisia facial, tensão mandibular, rinite e tremores na cabeça. A face poderá desenvolver um aspecto mais saudável e bem nutrido, com boa compleição e preenchimento das estruturas musculares, adiposa, pele, tendões e vasos.

5) Raktamokshana

O Ayurveda acredita que o sangue (Rakta) é aquele que carrega a vida (#Ayu) e, por isso, a qualidade do sangue influencia diretamente nos 4 pilares da vida: Ātmā (alma ou princípio da consciência que está além do corpo, aquele que vê), Manas (mente), Indriya (sentidos) e Śārīra (corpo).

Segundo o Caraka-saṃhitā, #Rakta é um dos Dasha Pranaayatana (um dos 10 locais de residência da energia vital).

Segundo Sushruta: Rakta é o 4° Dosha do corpo ( junto com #Vata, #Pitta e #Kapha)

Quando o sangue está puro, livre de toxinas/ substâncias indesejadas é responsável por sustentar a vida e prevenir a manifestação de doenças. No entanto, quando o sangue se torna impuro, pode ser necessário adotar métodos que auxiliem nessa purificação para o controle de doenças.

Há uma diferença entre duas linhas de ensino de #Ayurveda quanto aos constituintes do #Panchakarma. Segundo o livro Caraka Samhita, escrito por Agnivesha, os 5 procedimentos do Panchakarma são: #Vamana, #Virechana, #Nirūha Basti, #Anuvāsana Basti e #Nasya. Como você pode notar, ele não inclui #Raktamokshana (punção venosa/ sangria). Já a outra escola de Ayurveda (que adota o livro Sushruta saṃhitā como referência) considera os dois tipos de Basti dentro de um grupo só e acrescenta o Raktamokṣaṇa como o quinto procedimento.

Raktamokṣaṇa nada mais é do que o uso de métodos diferentes de sangria. Vem da palavra Rakta (sangue) e Mokṣaṇa (liberar, deixar fluir). Pode ser feito através de escarificação (Pracchana), punção venosa (Siravyadhana), sanguessugas (Jalauka Avacharana), Shringa Avacharana (utiliza um instrumento feito com chifre) e ventosas feitas com cabaça (Alabu Avacharana) ou potes de barro (Ghati Yantra Avacharana).

O Ayurveda ainda define a melhor indicação conforme o Dosha que estiver acometendo o sangue (Rakta):

Vata Dushta Rakta: Shringa Avacharana;
Pitta Dushta Rakta: Jalauka Avacharana;
Kapha Dushta Rakta: Alabu Avacharana.

Sua aplicação mais conhecida é no tratamento de doenças de pele e do sistema musculoesquelético.

Esse estudo, por exemplo, demostrou redução de congestão venosa, estase vascular, melhora da vascularização e da cicatrização da ferida em pacientes com úlcera nos pés.

Outros estudos (clique nos links para acessar as referências) mostraram alívio de dor lombar, Ciática, esporão do calcâneo, após sessões de raktamokshana. (5 e 7,. 8, 12, 17).

Outro estudo mostrou alívio de quadros de eczema.

Assim como os outros procedimentos do panchakarma, o #raktamokshana também possui indicações e contra-indicações.

Pessoas que NÃO devem fazer o raktamokshana:

Pessoas com discrasias sanguínea, distúrbios da coagulação;
Anemia com hemoglobina abaixo de 7.
Diabetes mellitus descompensado;
Paralisias, doença de Parkinson;
Pessoas fracas e debilitadas, gestantes, pessoas abaixo de 14 anos ou acima de 60;
Câncer metastático;
Infeção secundária;
Doenças cardíacas como infarto, doença arterial coronariana, angina;
Portadores de neuropatia periférica;
Portadores de Hanseníase, Hepatite A, B ou C,
Pessoas que tenham utilizado antibióticos nas últimas 4 semanas;
Pessoas em uso de AINEs;
Doenças endocrinas graves;
Doença Renal Crônica;
Anasarca (edema generalizado);
Hemorroida;
Ascite;
Tuberculose;
Delírium;
Retenção de flatos, fezes e urina (Vata Vina Mutra Sangi);
Sonolência (Nidrabhibhota);
Pessoa com medo de agulhas ou sangue (Bheeta);

Algumas das indicações de Raktamokshana:

Kuṣṭha: doenças de pele;
Dor e inflamação;
Filariose (Shlipada);
Erisipela (Visarpa);
Cárie (Saushira/ Krimidanta);
Sensibilidade nos dentes (Upkusha);
Lesão cística nas gengivas (Dantapupputa)
Tumores (Arbuda);
Diversos tipos de inflamações nos lábios (Pittaja, Raktaja e Kaphaja Ostha Roga);
Diversas condições inflamatórias localizadas (Kshudra Roga).

Após a sangria (raktamokshana), algumas substancias cicatrizantes e antisepticas podem ser utilizadas, como por exemplo, #cúrcuma, #alcaçuz, #mel e #ghee.

Como o #Ayurveda é uma Medicina Milenar, podemos perceber que o #Raktamokshana parece ser uma tentativa de auxiliar em diversas doenças de difícil tratamento. Algumas delas como a cárie e inflamações gengivais podem receber um tratamento mais adequado dentro dos consultórios de odontologia nos dias de hoje, outras como os tumores e certas doenças de pele devem sempre ser avaliadas por especialistas (seja o oncologista ou dermatologista) e operadas em condições de segurança, assepsia, paramentação, monitorização e anestesia apropriados aos dias atuais.

O uso de sanguessugas é outro assunto que em nosso país é impensável, mas que até os dias de hoje é comum na Índia. Sendo assim, não precisamos ter uma visão romântica do Ayurveda e da Vida e esperar que tudo seja lindo como um romance escrito no Tibet. Podemos utilizar o que há de melhor no Ayurveda e o que há de mais seguro e confiável na medicina moderna. Isso é agir de forma racional e inteligente.

O objetivo desse post foi trazer mais informações sobre o assunto Panchakarma, se você tiver qualquer problema de saúde o melhor a fazer é procurar atendimento médico. O Panchakarma pode ser utilizado como tratamento adjuvante em diversos problemas de saúde, possui indicações e contra-indicações específicas que só uma pessoa com conhecimento no assunto poderá dizer se esse é o melhor caminho para você nesse momento da vida.

Se você achou o conteúdo interessante, lembre-se de compartilhar com outras pessoas e permitir que o Ayurveda possa crescer no Brasil e no mundo de forma responsável, respeitando a individualidade, os costumes locais, a segurança do cuidado e responsabilidade. Para isso é preciso estudar e divulgar esse conhecimento em conjunto com o conhecimento da medicina convencional e as diversas publicações da área Acadêmica. Abaixo coloquei algumas referências utilizadas.

Referências

JAISWAL, Reena et al. Comparative study on the effect of Siravyadhana and Jalaukavacharana along with Trishothadi Lepam on foot ulcers. Journal of Indian System of Medicine, v. 6, n. 3, p. 122, 2018.
SHANKAR, KM Pratap et al. A clinical trial for evaluation of leech application in the management of Vicarcikā (Eczema). Ancient science of life, v. 33, n. 4, p. 236, 2014.
https://www.carakasamhitaonline.com/index.php?title=Main_Page
MISHRA, Lakshmi C. (Ed.). Scientific basis for Ayurvedic therapies. CRC press, 2003.
VAGBHATTA, Ashtanga Hridaya; ASHTANGA HRIDAYA, Uttartantra. Chaukhambha orientalia. New Delhi,, 2007.
MURTHY, Prof KR Srikantha. Sushruta Samhita of Sushruta.

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