O Jejum Pode Ser Curativo? Como é o jejum no Ayurveda e nas diversas culturas ao redor do mundo
Introdução
O jejum é uma prática antiga, presente em diversas culturas e tradições religiosas ao longo da história, muitas vezes vista como uma forma de purificação espiritual e física. Com o avanço da ciência, a questão que se coloca é: o jejum pode realmente ser uma ferramenta de cura no mundo moderno?
Pesquisas recentes têm investigado se períodos controlados de abstinência alimentar podem trazer benefícios à saúde, especialmente para o tratamento de doenças crônicas. Mas será que isso é seguro e eficaz para todos? Quais são as diferentes formas de se jejuar? Por quanto tempo? E quais benefícios devo esperar? É sobre isso que iremos falar.
O jejum ao longo da história humana e em medicinas antigas
De uma prática tradicional com raízes em diversas culturas, passou a ser estudado pela ciência contemporânea como uma estratégia eficaz para promover a saúde, prevenir doenças e até prolongar a vida. No cerne desta prática, o jejum envolve a abstinência total ou parcial de alimentos por um período determinado, o que desencadeia uma série de adaptações metabólicas e celulares no corpo.
No Ayurveda, um conhecimento médico milenar, o Jejum é recomendado para pessoas que apresentam Ama ou que estão com a capacidade digestiva prejudicada. Saiba mais nesse post:
Tipos de Jejum e Seus Impactos nos dias atuais
Atualmente, existem várias formas de jejum, e cada uma delas afeta o corpo de maneira distinta:
Jejum Intermitente: Alterna períodos de alimentação com períodos de jejum em um ciclo de 24 horas. Pode envolver jejuns de 16 a 18 horas, seguidos por uma janela alimentar de 6 a 8 horas. Sobre jejum intermitente, recomendo a leitura desse livro.
Jejum Prolongado: Refere-se à abstinência alimentar por 24 horas ou mais. Normalmente, dura entre 24 e 72 horas e é usado para efeitos mais profundos na autofagia e na regeneração celular.
Jejum de Dias Alternados: Neste regime, os indivíduos alternam dias de alimentação normal com dias em que consomem poucas calorias ou nenhum alimento.
Restrição Calórica Crônica: Não é exatamente jejum, mas uma abordagem de longo prazo em que a ingestão de calorias é reduzida sem causar desnutrição. A restrição calórica contínua também pode prolongar a vida e melhorar a saúde metabólica.
Jejum de acordo com o Ayurveda: Para o Ayurveda (principalmente no livro Sushruta Samhita), uma pessoa saudável deveria comer apenas duas vezes ao dia, para que o corpo tenha tempo de digerir o alimento completamente e transportá-lo ao longo do Trato Gastro Intestinal.
Além disso, para uma pessoa que está com o Agni prejudicado (Agnimāṇḍya), é recomendado que a pessoa faça somente uma única refeição por dia, no horário que a fome estiver mais intensa. Isso ajudará o organismo a se reorganizar e dará tempo para a capacidade digestiva (Agni) voltar ao normal.
Por outro lado, caso a pessoa apresente sinais e sintomas de Ama, então o jejum é indicado até que a fome volte ao normal. E como saber se a fome realmente voltou ao normal e já estou pronto para comer? Existem alguns sinais que você deve prestar atenção:
Não estou com vontade de ir ao banheiro (pois já fui).
Clareza nos sentidos.
Mente tranquila, sem preocupações.
O corpo está leve.
Não há desconforto no coração/tórax.
Se houver arroto, não tem sabor ou odor.
Há fome e interesse pelo alimento.
O estômago está vazio, leve e limpo.
Há formação de saliva e prazer ao sentir o cheiro da comida.
O jejum no Ayurveda, portanto, deve ser individualizado de acordo com a circunstância da pessoa, seus hábitos, seu Agni, sua idade (crianças e idosos devem ter cautela(, se existe alguma doença de base, se a mulher é gestante, entre outros fatores a considerar.
Cada método de jejum tem seus próprios efeitos no organismo, e é importante encontrar aquele que melhor se adapta às necessidades individuais. Para alguns, o jejum intermitente pode ser uma forma eficaz de controlar o peso, enquanto para outros, pode não ser adequado por ser gatilho para transtornos alimentares.
Existe ainda a modalidade de jejum religioso que é uma prática profundamente enraizada em várias culturas e tradições espirituais ao redor do mundo, com o objetivo de purificação, disciplina espiritual e aproximação com o divino. Embora seu foco não seja, em primeira instância, os benefícios físicos, estudos sugerem que o jejum religioso também pode trazer efeitos positivos à saúde, similares aos jejuns terapêuticos.
Principais Formas de Jejum Religioso:
Ramadã (Islã):
Durante o mês do Ramadã (ocorre no 9° mês do ano da religião islâmica regido pelo calendário lunar), os muçulmanos jejuam do amanhecer ao pôr do sol, abstendo-se de comida, bebida, e outras atividades. Apesar de o período de jejum ser limitado ao dia, a prática diária por um mês gera efeitos metabólicos e hormonais que podem ter benefícios para a saúde.
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Jejum na Igreja Ortodoxa:
Os cristãos ortodoxos praticam o jejum em várias épocas do ano, sendo o mais notável a Quaresma (o período de jejum que começa na quartefeira de cinzas e se estende até o domingo de Ramos, uma semana antes do Domingo de Páscoa).
Durante esses períodos, há restrição de certos tipos de alimentos (como carne e laticínios) por longos períodos, o que pode influenciar positivamente a saúde cardiovascular, a redução de peso e os níveis de colesterol.
O período da Quaresma é considerado propício ao jejum, filantropia, caridade e práticas de austeridade. Para saber mais sobre o poder do jejum dentro da religião cristã, leia os livros:
Yom Kipur (Judaísmo):
No Yom Kipur (data que corre anualmente no dia 10 de Tishrei, o primeiro mês do calendário hebraico), o "Dia da Expiação", os judeus praticam um jejum completo de 25 horas, abstendo-se de comida e bebida. Embora seja curto em comparação com outros jejuns, pode causar benefícios na redução de inflamação e sensibilização à insulina.
Para entender sobre a guerra do Yom Kipur e por que esse dia é tão importante para os Judeus, leia o livro The Yom Kippur War.
Jejum no Hinduísmo:
O jejum no hinduísmo é praticado em várias ocasiões, como Ekādaśī, um dia de jejum bimestral. Ekādaśī corresponde ao 11° dia após a lua nova ou lua cheia. Pode ser considerado também como o décimo primeiro dia de qualquer quinzena de um mês lunar.
Nesse dia, alguns praticam jejum completo, enquanto outros optam por restrições parciais, como consumir apenas frutas e água. Essas práticas podem estimular a desintoxicação e a clareza mental.
Além disso, a pessoa deve se abster de carnes e práticas sexuais no dia que antecede o Ekādaśī. Assim como em outras culturas, esse dia é propício para se fazer caridade (oferecer comida aos necessitados).
Esse guia ensina o passo a passo de como praticar o Ekādaśī:
Jejum Budista:
Em algumas tradições budistas, monges e seguidores praticam jejum intermitente, comendo apenas uma refeição por dia antes do meio-dia. A prática é vista como uma forma de autodisciplina e também traz benefícios metabólicos e hormonais.
Além disso, essa prática facilita a meditação, a clareza mental e a capacidade de dormir menos e acordar mais cedo.
Benefícios à Saúde do Jejum Religioso:
Embora o propósito do jejum religioso seja principalmente espiritual, os efeitos sobre o corpo podem ser semelhantes aos do jejum terapêutico. Estudos mostram que os jejuns religiosos podem promover a perda de peso, melhorar a saúde cardiovascular, reduzir os níveis de colesterol e pressão arterial, e aumentar a sensibilidade à insulina. Além disso, o jejum regular pode desencadear a autofagia, melhorando a longevidade celular.
Diferenças entre Jejum Religioso e Jejum Terapêutico:
Enquanto o jejum terapêutico é muitas vezes monitorado por profissionais de saúde e adaptado para alcançar objetivos específicos, como perda de peso ou tratamento de doenças, o jejum religioso é orientado por tradições espirituais. A duração e os tipos de alimentos permitidos variam amplamente entre as religiões, e o objetivo principal é geralmente espiritual, como o fortalecimento da fé, a purificação ou a busca por virtude e autodomínio.
Em resumo, o jejum religioso não é apenas uma prática espiritual, mas também pode gerar uma série de benefícios físicos, desde que realizado de maneira equilibrada e respeitando as necessidades individuais.
Benefícios do Jejum para a Longevidade e a Saúde
O jejum tem sido associado a uma série de benefícios à saúde, muitos deles decorrentes da ativação da autofagia, um processo em que o corpo se “autolimpa”, removendo células danificadas e regenerando tecidos. Isso promove a longevidade e a saúde celular, e é um dos mecanismos centrais por trás dos benefícios anti-envelhecimento do jejum.
Além disso, o jejum pode otimizar a sensibilidade à insulina e ajudar na regulação dos níveis de glicose, o que é particularmente importante para prevenir ou controlar condições como a síndrome metabólica e o diabetes tipo 2. Estudos também mostram que o jejum pode diminuir a inflamação crônica, um fator subjacente a várias doenças crônicas, incluindo doenças cardíacas, câncer e Alzheimer.
A Ciência por Trás do Jejum
Diversos estudos científicos têm explorado os efeitos do jejum em doenças como o câncer, doenças cardíacas e obesidade. Um dos principais focos é o impacto metabólico dessa prática. O jejum pode desencadear processos como a autofagia, um mecanismo celular de “limpeza” e regeneração, que pode ser benéfico para a saúde em geral. Pesquisas indicam que o jejum intermitente e o jejum prolongado podem contribuir para a perda de peso, redução da inflamação e melhora na saúde metabólica.
No entanto, é importante destacar que esses estudos ainda estão em fases preliminares. Embora existam indícios promissores, a ciência ainda não chegou a um consenso sobre os efeitos a longo prazo do jejum em populações diversas.
Os Riscos Envolvidos no Jejum
Embora o jejum tenha seus benefícios potenciais, ele não está isento de riscos. Para pessoas com diabetes, por exemplo, a abstinência alimentar pode causar grandes flutuações nos níveis de açúcar no sangue, resultando em complicações graves como a hipoglicemia se não houver suspensão e ajuste apropriado da insulina ou medicamentos antidiabéticos orais.
Além disso, quem faz uso de certos medicamentos ou tem histórico de transtornos alimentares deve ter cautela ao adotar o jejum, pois ele pode ser um gatilho para a pessoa comer de maneira "transtornada" e ter recaídas.
O jejum não deve ser visto como uma solução milagrosa para problemas de saúde. A prática inadequada pode levar a desnutrição, fraqueza e desequilíbrios eletrolíticos, colocando em risco a saúde do praticante.
Conclusão
Embora o jejum tenha raízes históricas profundas e algumas evidências científicas indiquem benefícios potenciais, é fundamental abordá-lo com cuidado. O jejum pode oferecer vantagens em termos de saúde metabólica, mas requer mais estudos para determinar sua segurança e eficácia a longo prazo. Sempre consulte um profissional de saúde antes de iniciar qualquer tipo de regime de jejum, especialmente se houver condições médicas pré-existentes.
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