O conceito de imunidade no Ayurveda
Você já se perguntou por que várias pessoas entram em contato com vírus, bactérias e fungos, mas apenas algumas ficam doentes?
Se está em busca de descobrir uma forma natural e simples de melhorar a sua imunidade esse post é para você!
Primeiramente, precisamos deixar claro que o #Ayurveda não se posiciona contra as vacinas, mas propõe uma perspectiva diferente e única sobre como fortalecer o sistema imune e resistir às doenças. De acordo com esse conhecimento milenar, a imunidade não é apenas uma questão física, mas algo intimamente ligado ao estado nutricional dos tecidos corporais e ao equilíbrio com a mente.
Quando utilizamos o termo "tecidos corporais", dentro da perspectiva do Ayurveda, precisamos ter em mente sobre o que exatamente estamos falando. Trata-se de um conceito específico do Ayurveda que refere aos 7 tecidos do nosso corpo (termo conhecido como Saptadhatu). Sapta significa o número sete, ou seja, essas 7 estruturas são os pilares que dão suporte e nutrição ao corpo.
Para que você se familiarize com o conceito dos 7 tecidos farei um breve resumo de cada um, bem como a respeito dos sintomas relacionados à deficiência de cada um.
Rasa (plasma): é o primeiro tecido a ser formado, logo após a digestão dos alimentos no trato gastrointestinal. Pode ser comparado ao plasma que circula em nosso sistema vascular misturado com o sangue. Sua principal função é Prīṇana (nutrir e hidratar todos os tecidos do corpo). Uma pessoa com deficiência de Rasa Dhatu pode experimentar sintomas como inquietação, desidratação, palpitação, desconforto cardíaco, exaustão aos mínimos esforços, desnutrição e baixa tolerância ao barulho (som alto).
Rakta (sangue): comparado ao sangue e alguns dos seus componentes (hemácias, fatores de coagulação e plaquetas). Sua principal função é gerar vitalidade e oxigenação dos tecidos (Jīvana). A redução do Rakta Dhatu pode se manifestar como anemia, pele e mucosas pálidas, desidratadas, ásperas e rachadas. Essa fraqueza no Rakta (sangue), bem como no sistema vascular (arterial e venoso) leva a uma baixa/inadequada irrigação sanguínea e nutrição para os tecidos, culminando em perda da vitalidade e redução da força física e mental (quadro chamado de Balakshaya).
Mamsa (músculo): nada mais é do que o tecido muscular. Sua principal função é Lepana (revestimento), dando o formato ao corpo, envolvendo os ossos, protegendo nossos órgãos e vísceras abdominais e garantindo as atividades de locomoção dos membros, face e etc. A depleção do sistema muscular resulta em fraqueza dos membros, dores articulares, perda de força física, dificuldade na locomoção e piora inclusive dos órgãos do sentido.
Meda (gordura): se compara ao tecido gorduroso. Sua principal função é a lubrificação (snehana) dos órgãos, vísceras, musculatura, articulações, pele e até da nossa própria voz. A redução desse tecido causa desconforto e parestesia na região da cintura, aumento do baço, emagrecimento do corpo, voz fraca e fraqueza corporal.
Asthi (ossos): é o nosso sistema ósseo (esquelético), responsável por uma função chamada de Dharana (suporte, sustentação). É o que mantém o nosso corpo firme, em pé e permite a locomoção. A redução de Asthi Dhatu causa dor articular, cáries, fraqueza ou perda de dentes, cabelos e unhas. Assim como nos outros tecidos descritos anteriormente, uma redução de Asthi também levará a redução de Bala (força física e mental).
Majja (medula): é comparado ao nosso sistema nervoso, bem como medula espinhal e medula óssea. Sua função principal é chamada de Purana (preenchimento de espaços vazios), uma tradução que me parece excessivamente simplista, tendo em vista a infinidade de atividades corporais que essas estruturas anatômicas descritas acima são capazes de exercer. Uma deficiência de Majja Dhatu pode levar a um estado de "vazio corporal", que pode ser entendido como redução da produção celular, fraqueza, sensação de desmaio, tontura, escurecimento visual, etc.
Śukra (tecido reprodutor): é comparado ao sistema reprodutor masculino e feminino. Sua principal função é chamada de Garbhotpadana (reprodução/ gerar outro ser humano). A redução de Shukra Dhatu resulta em diminuição da fertilidade, baixa libido, redução da força física e vitalidade, retardo na ejaculação, ejaculação acompanhada de sangramento e/ou dor, ardência uretral e dispareunia.
Agora que já conhece os 7 tecidos, entenda a relação deles com a sua imunidade
Segundo a teoria do Ayurveda, esses tecidos são gerados um após o outro e culminam na formação de um produto final que recebe o nome de Ojas. Ojas é a essência dos 7 Dhatus.
Por falta de um termo equivalente na língua portuguesa ou inglesa, o termo Ojas é frequentemente traduzido como #imunidade, mas precisamos entender que #Ojas é muito mais do que isso.
Ojas é também o responsável por Bala (nossa força, energia e vigor físico/mental). É através de Bala que exercemos o trabalho físico e mental, nos protegermos contra doenças ou mesmo retardamos a progressão de um problema de saúde já existente.
Ter bom Ojas é sinônimo de boa memória, sabedoria, entusiasmo com a vida, sabedoria, habilidades físicas e motoras, uma voz clara, uma pele brilhante e saudável, órgãos do sentido acurados e saudáveis, coragem, ausência de tristeza, pesar ou sofrimento.
Uma pessoa dotada de bom Ojas e Bala também será capaz de receber um tratamento (seja através de vacinas, quimioterápicos, cirurgias ou plantas medicinais) sem desenvolver efeitos adversos e complicações.
Tendo em vista a complexidade de todo esse processo, perceba que gerar Ojas não é algo simples que pode ser conseguido apenas ingerindo meia dúzia de suplementos ou ervas medicinais. A abordagem do Ayurveda é simples, mas exige trabalho, comprometimento e dedicação diários. Por isso, vou lhe ajudar a construir um corpo mais forte e saudável através de uma abordagem sistemática em 7 passos. Se você puder se dedicar a cada um desses itens ao longo dos próximos dias, certamente começará a notar os efeitos benéficos em seu próprio corpo.
Os 7 Principais responsáveis pela imunidade no Ayurveda
Equilíbrio dos Doshas: para haver equilíbrio entre os Doshas, precisamos conhecer nosso próprio corpo e saber identificar exatamente o que é Vata, Pitta e Kapha. Se você quer saber mais sobre o significado da palavra Dosha e como identificar sua Prakruti e Vikruti clique nesse link que entenderá melhor esse artigo.
Digestão eficiente: digestão é a base para construir um estado nutricional adequado aos tecidos. Sem um bom Agni (capacidade digestiva) não se pode ter uma absorção eficiente de nutrientes para os 7 tecidos (Saptadhatus). A consequência disso será uma formação inadequada dos Dhatus (os 7 tecidos que constituem o corpo e sustentam a vida). Como vimos acima, sem formar os dhatus adequadamente, a formação de Ojas ficará comprometida.
Atividade física: o exercício físico desempenha um papel crucial na melhoria da imunidade. O efeito protetor ocorre por uma série de mecanismos já documentados. A prática regular de atividade física nos ajuda a reduzir o estresse, melhorar o sono e até aumentar a produção de céluas T. O resultado disso é uma melhora no sistema imune. Contudo, é preciso destacar que o excesso/ intensidade do exercício podem ser prejudiciais para a imunidade, enquanto que exercícios de moderada intensidade foram os que se mostraram benéficos. Segundo o Ayurveda, a prática de exercícios diária e adequada irá aumentar o Agni (capacidade digestiva) no trato gastrointestinal e também nos 7 Dhatus, proporcionando um resuldado final de aumento de Ojas, ou seja, melhora da imunidade.
Sono: tenha uma rotina regular noturna para que o seu corpo e mente entendam o momento de relaxar e possam se recuperar de um dia de atividade intensa. Isso ajudará e muito sua imunidade. Se você precisa, por exemplo, de 8h de sono para acordar bem e se sentir descansado, deverá se programar para garantir que o horário em que acorda e vai deitar sejam compatíveis com essa rotina de vida.
Alimentação: escolher os alimentos mais adequados para a sua constituição (prakruti) e nutrição dos Dhatus (os 7 tecidos do corpo). Prefira os alimentos que trabalham a favor da sua constituição. Por exemplo, se você possui predomínio de Kapha, pode se beneficiar do consumo de especiarias picantes, menor quantidade de lácteos, gorduras e açúcar. Se, por outro lado, há um predomínio de Pitta, melhor deixar de fora tudo o que for picante, azedo e gorduroso como as pimentas, picles, conservas, vinagre, limão, abacaxi, frituras e etc. Por fim, se há o predomínio de Vata, inclua, dentre os alimentos à seguir, aqueles que sejam fáceis de digerir para você, mas que ao mesmo tempo sejam muito nutritivos: tais como abóbora, arroz, trigo, aspargos, cenoura, abobrinha, batata doce, batata baroa, cogumelos, ovos, carnes, castanhas, semente de linhaça, gergelim, tahine, banana da terra, etc.
Pratique alguma técnica de meditação que lhe ajude a controlar o estresse e exercer o domínio sobre a própria mente e os sentidos. Já postei alguns vídeos no canal que podem lhe ajudar: Meditação relaxante | Alívio: estresse . ansiedade . depressão Meditação e relaxamento (atenção plena) 1h Vipassana Meditation + Mettā-bhāvanā [ENG] | 1h de Meditação Vipassana + Mettā-bhāvanā [PT-BR]
Procure ajuda profissional: você pode estudar o Dossiê dos Doshas e descobrir a proporção de Vata, Pitta e Kapha em seu corpo:
Esse conhecimento irá lhe ajudar muito a decidir a melhor estratégia de Rotina diária e sazonal. Porém, caso tenha dificuldade, não hesite em buscar ajudar profissional com uma pessoa que tenha formação na área. Um profissional com conhecimento de Ayurveda poderá identificar com precisão sua Prakruti, Vikruti, seu Agni, o estado de vitalidade dos seus Dhatus e então recomendar um plano personalizado para cuidar da sua saúde ou atenuar algum desconforto que esteja sentindo.
Conheça agora algumas plantas medicinais do Ayurveda que possuem íntima relação com Ojas.
5 Plantas medicinais do Ayurveda que podem ajudar a construir um sistema imune mais forte.
Ashwagandha: essa planta medicinal adaptógena que ajuda a reduzir o estresse e fortalecer o sistema imune. Contudo, por ser uma planta medicinal tônica, não deve ser utilizada em quadros agudos de febre, gripe ou Ama (presença de toxinas no Trato Gastro Intestinal).
Amla: é uma fruta rica em vitamina C, capaz de ajudar na digestão e fortalecer o sistema imune. Dentro do Ayurveda é conhecida pela propriedade Rasayana, ou seja, que promove a longevidade com qualidade de vida.
Cúrcuma: esse é um rizoma que ficou muito famoso no ocidente pelo seu princípio ativo curcumina, mas se você já é leitor desse blog sabe muito bem que a cúrcuma possui mais de 300 substâncias ativas tão incríveis quando a curcumina. Leia esse post para conhecer melhor essa planta medicinal incrível.
Neem: essa planta medicinal tem efeitos antivirais e antibacterianos importantes. Diferente da Ashwagandha, essa planta é útil em quadros agudos e deve ser utilizada por um tempo menor (de 7 a 14 dias). Isso por que possui uma propriedade chamada Lekhana (abrasivo) e promove a redução de toxinas, muco, secreções e até dos tecidos (quando utilizada por muito tempo). Por esse motivo, os Vatas precisam tomar cuidado ao fazer uso dessa planta medicina.
Gengibre: outro rizoma parecido com a cúrcuma, exceto pelo sabor picante, sua coloração e efeitos medicinais. Tem atuação importante sobre o sistema digestivo e respiratório. Também tem leve efeito analgésico. É preciso cautela em pessoas com distúrbios de coagulação, uso de anticoagulantes, discrasias sanguíneas e fluxo menstrual intenso, pois possui um leve efeito anticoagulante.
A abordagem do Ayurveda também vai além da prática do estilo de vida saudável ou uso de plantas medicinais e pode incluir procedimentos como o Panchakarma para ajudar no tratamento de doenças e desconfortos mais graves. Se quiser saber mais sobre o Panchakarma (clique aqui). Lembre-se de que é sempre aconselhável consultar um profissional de saúde antes de iniciar qualquer novo tratamento ou suplemento.
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Referências
Simpson, R.J., Kunz, H., Agha, N. and Graff, R., 2015. Exercise and the regulation of immune functions. Progress in molecular biology and translational science, 135, pp.355-380.
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