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Fadiga crônica: tratamento com plantas medicinais, suplementos e a visão da Medicina Ayurveda.

A Síndrome da Fadiga Crônica é uma condição complexa, de causa multifatorial e que exige atendimento #multidisciplinar e dedicação na reorganização do estilo de vida para se obter melhora significativa. Anteriormente escrevemos sobre as 5 Causas de Fadiga Crônica e como melhorar.


Dessa vez iremos abordar algumas das formas de tratamento disponíveis e utilizadas atualmente.


Uma revisão sistemática de 2022 mostrou que a Terapia Cognitivo Comportamental e a Terapia de Exercícios Graduada podem ajudar na Síndrome da Fadiga Crônica, promovendo algum benefício em curto e médio prazo. A Terapia de Exercícios Graduada é um plano de atividade física programada que se inicia de forma bem suave e aumenta de intensidade ao longo do tempo.


Em contrapartida, outro estudo de 2021 mostrou que a Terapia Cognitivo Comportamental beneficiou apenas uma pequena porcentagem de pessoas (8%–35%) e a Terapia de Exercícios Graduada teve um efeito negativo (com piora da fadiga após o esforço físico) em um grande número de pessoas (54%–74%).


Esses resultados conflitantes fizeram com que algumas entidades médicas deixassem de recomendar essas duas modalidades de tratamento (Terapia Cognitivo Comportamental e a Terapia de Exercícios Graduada). O mesmo consenso, por outro lado, recomenda, entre outras estratégias, um método chamado "pacing" que consiste em uma abordagem individualizada para conservar a energia e minimizar a frequência, duração e gravidade do mal estar pós esforço (tradução de post-exertional malaise). Para saber mais sobre "pacing" conheça esse site que promove um tutorial da técnica.


É curioso notar como recomendações podem ser tão atuais e ao mesmo tempo tão conflitantes sobre o mesmo problema de saúde. Isso não é demérito, mas a forma como a medicina é praticada atualmente. É importante que exista o debate e a discussão sobre o que de fato funciona. É preciso testar, questionar e colocar a prova qualquer proposta de tratamento, mesmo aquelas que já estão, teoricamente, "consolidadas". Se de fato estamos buscando melhorar a qualidade de vida e o alívio de doenças de difícil tratamento é necessário o diálogo entre os conhecimentos moderno e antigo. Por isso, à seguir falaremos sobre a visão da Tradicional Medicina Ayurveda em relação à Fadiga Crônica.

Dentro da visão desse sistema de medicina antigo (com mais de 3 mil anos de conhecimento acumulado), a fadiga crônica pode ocorrer por uma deficiência de Rasa Dhatu (O primeiro tecido corporal formado após a alimentação, segundo a fisiologia do Ayurveda) e Ojas (o produto final ou essência dos 7 tecidos corporais/ Saptadhātu). Conheça mais sobre os 7 tecidos corporais (Saptadhātu) clicando aqui.


Dependendo do caso podem ser utilizadas plantas medicinais e recomendações para melhorar a digestão. A abordagem da medicina Ayurveda para o tratamento das doenças pode ir muito além da prescrição e sempre leva em conta a individualidade de cada pessoa. Veja a seguir um exemplo de uma abordagem publicada em um artigo.

Esse relato de caso mostra o tratamento de uma mulher de 39 anos que sofria de fadiga crônica há 3 anos, sono não restaurador, cansaço, dor cervical, gases abdominais, perda de memória recente, irritação na garganta associada com rouquidão. Os sintomas não aliviavam com o descanso e pioravam aos mínimos esforços ou estresse físico. Havia sido diagnosticada com hipotereoidismo há 7 anos e estava em uso de levotiroxina 50mcg/dia. Praticava atividade física moderada, yoga e dança 2h/semana. Referia grande estresse psicológico em casa e no trabalho.


Foi submetida a uma avaliação de acordo com o #Ayurveda e diagnosticada como tendo uma Vikruti Pitta-Vata (Clique aqui para entender o que é vikruti-pitta-vata), bem como deficiência de Rasa e Rakta Dhatu e baixo Jatharagni (capacidade digestiva). O diagnóstico do estado mental mostrava desequilíbrio de Rajas e Tamas.

O tratamento inicial por 2 meses foi feito com:
  • Stress Guard (um composto com Ashwagandha, Brahmi e Jatamamsi) 1cps de 12/12h;

  • Xarope de Shankhapushpi (Evolvulus alsinoides/ Convolvulus pluricaulis) 2 col. de chá com água duas vezes ao dia (após o café da manhã e jantar).

  • Chyavanprash (geléia de amalaki com outras plantas medicinais): 2 col. de chá com leite ou água morna uma vez ao dia às 7h da manhã.

Além disso foi orientada a evitar os alimentos que agravam Vata: alimentos muito secos, frituras, grão de bico, refrigerante, etc. Também foi recomendado a ingestão de alimentos frescos (preparados no dia) e pranayama (exercícios respiratórios).


O resultado:

Inicialmente (antes do tratamento) ela sentia de 3-6h de fadiga diária, que atrapalhava suas atividades domésticas e no trabalho.


Ao final dos 2 meses de tratamento já apresentava menos de 3h de cansaço diário que já não interferia com as atividades domésticas e com o trabalho. Tornou-se capaz de caminhar 5x/semana e não teve nenhum episódio de fadiga intensa no mês anterior. O sono passou a ser reparador e não sentia mais sonolência ao longo do dia.


Algumas considerações sobre o caso:

Síndrome da Fadiga Crônica é uma condição multifatorial que deve ser abordada de forma abrangente. Não existe uma única droga, suplemento ou planta medicinal que possa ser utilizada isoladamente. É necessário acompanhamento multidisciplinar e muitas vezes uma combinação de métodos de tratamento, plantas adaptógenas e até mesmo medicamento psiquiátrico por algum tempo, conforme o quadro.


A pessoa que sofre de Fadiga Crônica precisa estar consciente que alguns passos precisam ser dados para que consiga obter melhora nos sintomas, resultados mais satisfatórios e aumento da qualidade de vida tanto quanto possível.


Nesse relato de caso, cada planta medicinal utilizada contribui para o conjunto do tratamento:

Ashwagandha (Withania somnifera) possui propriedades anti-estresse, antioxidante, imunomoduladora e rejuvenecedora (segundo esse estudo).


Brahmi (Bacopa monnieri) é conhecido por ser adaptogênico, aliviar o estresse e melhorar a memória (segundo esse estudo e esse aqui).


Jatamamsi (Nardostachys jatamansi): possui efeito antioxidante e protetor neuronal (conforme esse artigo mostrou). Também auxilia no sono reparador e no cansaço mental.


Shankapushpi (Evolvulus alsinoides/ Convolvulus pluricaulis) tem efeitos imunomoduladores, antioxidantes, promove alívio da ansiedade, do estresse, melhora a memória e também é neuroprotetor (confira o artigo). Apresenta ainda efeito protetor do fígado, antiviral, antifúngico, antibacteriano, entre outros conforme esse estudo.


Chyavamprash (geléia com cerca de 50 plantas medicinais incluindo a polpa dos frutos de #Amla, fruta rica em vitamina C) contém grande capacidade de remoção de radicais livres e efeito imunomodulador. Na Ayurveda é conhecida pelo seu efeito Rasayana (que promove o vigor e a vitalidade física, enquanto atrasa o envelhecimento).


Como se trata apenas de um relato de caso, esse estudo não tem o mesmo peso científico de um ensaio clínico randomizado ou de uma metanálise, mas serve de substrato para estudos futuros.

Outro ponto não abordado pelo estudo é a possível deficiência de vitaminas do Complexo B (principalmente vitamina B12, vitamina B6, vitamina B2 e vitamina B9), magnésio, vitamina C e outras vitaminas cuja deficiência pode gerar sintomas semelhantes aos descritos na Síndrome da Fadiga Crônica.


Um estudo em pessoas com Síndrome da Fadiga Crônica mostrou que grande parte delas apresentavam baixos níveis de magnésio nos eritrócitos (células vermelhas) e respondiam à suplementação com esse importante nutriente.

A deficiência de diversas vitaminas e minerais deve ser sempre investigada nos quadros de Fadiga Crônica, bem como a realização de exames laboratoriais. Esse consenso da Clinica Mayo recomenda os seguintes exames para todos os pacientes com suspeita de Síndrome da Fadiga Crônica:


Hemograma completo, fator reumatóide, fator anti nuclear, 4 amostras de cortisol salivar (ao acordar, no meio do dia, as 16h e ao deitar), TSH, T4 livre, proteína C reativa, Vitamina B12, Vitamina D, Velocidade de Hemossedimentação, ferritina, Urinálise e um painel metabólico completo (que busca avaliar, por meio do sangue, todos os processos físico-químicos que utilizam energia em nosso corpo).


Para concluir, devemos ter em mente que nada substitui uma alimentação balanceada com frutas, vegetais, folhas verdes, leguminosas e cereais variados. Caso o seu médico ou profissional de saúde tenha lhe indicado a necessidade de vitaminas, busque aquelas preparadas com ingredientes de qualidade, sem adição de conservantes, aromatizantes ou sabores artificiais.

Veja alguns exemplos nos links abaixo:



Referências

1) INGMAN, Tom et al. A systematic literature review of randomized controlled trials evaluating prognosis following treatment for adults with chronic fatigue syndrome. Psychological medicine, p. 1-13, 2022.


2) BATEMAN, Lucinda et al. Myalgic encephalomyelitis/chronic fatigue syndrome: essentials of diagnosis and management. In: Mayo Clinic Proceedings. Elsevier, 2021. p. 2861-2878.


3) VINJAMURY, Sivarama Prasad. AYURVEDIC TREATMENT OE CHRONIC EATIGUE SYNDROME—A CASE REPORT. 2005.


4) CHOWDHURI, D. Kar et al. Antistress effects of bacosides of Bacopa monnieri: modulation of Hsp70 expression, superoxide dismutase and cytochrome P450 activity in rat brain. Phytotherapy Research: An International Journal Devoted to Pharmacological and Toxicological Evaluation of Natural Product Derivatives, v. 16, n. 7, p. 639-645, 2002.


5) RAI, Deepak et al. Adaptogenic effect of Bacopa monniera (Brahmi). Pharmacology Biochemistry and Behavior, v. 75, n. 4, p. 823-830, 2003.

APA

6) DEVI, Pritika. An updated review on Shankhpushpi-As Medhya Rasayana. Journal of Ayurvedic and Herbal Medicine, v. 7, n. 2, p. 119-123, 2021.

7) AGARWA, Parul et al. An update on Ayurvedic herb Convolvulus pluricaulis Choisy. Asian Pacific journal of tropical biomedicine, v. 4, n. 3, p. 245-252, 2014.

APA

8) SAHU, Renu et al. Medicinal properties of Nardostachys jatamansi (a review). Oriental journal of chemistry, v. 32, n. 2, p. 859-866, 2016.

9) COX, I. M.; CAMPBELL, M. J.; DOWSON, D. Red blood cell magnesium and chronic fatigue syndrome. The Lancet, v. 337, n. 8744, p. 757-760, 1991.


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Olá, que bom ver você por aqui!

Sou Dr. Alfio Sampieri, meu propósito com esse blog é compartilhar o conhecimento daquilo que é essencial quando falamos de saúde. Por isso apelidei o que faço de Medicina Minimalista. Vivemos em uma era de abundância de conhecimento, contudo ao mesmo tempo somos bombardeados por um excesso de produtos, coisas e informações irrelevantes e por vezes prejudiciais. Assim como você, um dia já me perguntei se aquele suplemento famoso ou medicamento de última geração eram realmente necessários para minha saúde e de meus pacientes. Por isso, meu compromisso é compartilhar tudo o que descobri nesse caminho com verdade e transparência. 

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