É verdade que a cúrcuma pode induzir Lesão hepática?
Em 2023 foi publicada uma série de casos que afirma uma "preocupante" associação entre o uso de cúrcuma e lesões no fígado.
Contudo, não é porque algo foi publicado em uma revista científica séria que está livre de viés e erros metodológicos. E aí? O que você acha? Será que a #cúrcuma faz bem? Vamos analisar os detalhes do artigo para descobrirmos se a cúrcuma realmente induz lesão hepática.
No post de hoje nós iremos discutir detalhe por detalhe desse estudo e você poderá tomar uma decisão esclarecida e melhor informada.
Sempre que estamos diante de um artigo científico devemos nos perguntar se existe algum conflito de interesse por trás daquela publicação.
Além disso, é importante lermos o estudo na íntegra para entendermos realmente o que foi feito e se as conclusões descritas ali podem realmente ser levadas a sério. Essa é a beleza da Medicina Baseada em Evidências. Não há espaço para dogmas e temos a liberdade para questionar com senso crítico e tomar melhores decisões.
Analizando o estudo que alega queú ra cúcuma pode causar lesão hepática
Para começar, o estudo não fala se as pessoas usaram cápsulas de cúrcuma ou curcumina. Essa informação é importantíssima, pois são completamente diferentes. Veja esse post em que revelo a verdade sobre a cúrcuma para entender melhor essas diferenças.
Em segundo lugar, o estudo publicado traz 10 casos completamente heterogêneos, ou seja, não se pode fazer comparações entre eles e tirar conclusões. Metade dos casos era leve e não precisou de hospitalização. A mediana do IMC foi de 26,7 kg/m², ou seja, indicava sobrepeso. Um dos casos inclusive apresentava IMC de 39,5kg/m² ou seja era obeso grau II.
Já existe extensa literatura científica provando que a obesidade é um fator de risco associado à lesão e insuficiência hepática.
O estudo não para por aí. São tantos erros e falhas elementares que talvez os pesquisadores tenham "esquecido" de enfatizar ou levar em consideração o fato que 70% utilizava bebida alcoólica! Mais um fator que contribui para lesão hepática.
Ficou parecendo que esses pesquisadores acordaram um belo dia de manhã e decidiram “bora ali falar mal da cúrcuma no American Journal of Medicine? #partiu”…
Fico me perguntando como um estudo tão mal desenhado e escrito (para não dizer mal intencionado) consegue ser publicado em uma revista conceituada como o American Journal of Medicine? Será que não passou por uma revisão? Será que estavam com muita pressa para publicar? O que aconteceu?
Podemos chamar isso de qualquer coisa, menos de Medicina Baseada em Evidências.
Para finalizar, o estudo não fala a dose utilizada pelas pessoas. Segundo a OMS, a dose máxima diária para ingestão de curcuminóides é de 3 mg/kg (ou um total de 250mg para um adulto de 82kg aproximadamente).
Uma cápsula de extrato padronizado com 500mg de cúrcuma contendo 10% de curcuminóides oferece 50mg de curcuminóides. Sendo assim, a pessoa precisaria utilizar uma dose maior do que 5 cápsulas por dia para exceder a dose máxima diária recomendada pela OMS.
De qualquer forma, o estudo não fala as doses utilizadas pelos 10 participantes.
Será que esqueceram esse pequeno detalhe?
Ao invés disso, eles ainda tentam sustentar a opinião de que a lesão hepática tenha alguma relação com a combinação de #piperina, sendo que metade dos participantes não utilizava essa substância concomitantemente à cúrcuma.
Conclusão: será que a cúrcuma realmente causa lesão hepática?
É um estudo cheio de erros metodológicos, que esconde dados propositadamente. Compara casos repletos de fatores de risco pré-existentes que podem gerar confusão na hora de interpretar os resultados. Nem sequer menciona a dose utilizada ou leva em consideração que as doses necessárias para lesar algum órgão ou gerar algum risco para a saúde humana deveria ser muito maiores do que as doses comumente sugeridas pelos rótulos da maioria dos produtos (ou seja, a dose de 1 cápsula duas vezes ao dia).
Sendo assim, é muito improvável que a cúrcuma seja culpada por causar qualquer problema no fígado dos participantes desse estudo. O estudo é só uma mistura de sensacionalismo e má fé. Se houvesse uma definição de #fakenews esse estudo se enquadraria perfeitamente. Desinformação pura.
A cúrcuma não é uma ameaça à saúde pública. Esse rizoma vem sendo usado há milhares de anos e não será uma pesquisa mal feita que irá arruinar sua reputação de Mahauṣadhi (termo sânscrito empregado para as grandes plantas medicinais da humanidade).
Ninguém que se sente bem utilizando a cúrcuma deveria ser instruído a interromper o uso com base apenas nesse estudo mal conduzido. Contudo, devemos sempre ter em mente o princípio divulgado pela nossa Medicina Minimalista de só utilizar algo que seja realmente necessário e que não vá prejudicar.
Como mensagem final eu deixo esas 5 situações para você lembrar caso esteja utilizando ou pense em utilizar a cúrcuma:
Evitar utilizá-la em casos de pedra na vesícula (de qualquer origem) ou pedra nos rins por oxalato.
Cúrcuma integral é sempre melhor do que curcumina (veja esse post para entender).
Não ultrapasse a dose diária de 1 colher de sopa ou 5 cápsulas de 500 de cúrcuma integral ou 250mg de curcuminóides.
Caso esteja buscando uma cúrcuma de qualidade não adulterada prefira ela integral (compre aqui) ou de marcas mais confiáveis (como esta ou esta).
Por último, sempre é bom lembrar que nem todo mundo precisa associar cúrcuma com pimenta ou piperina. O seu corpo sabe o que é melhor para você e vai absorver o que você precisa. Se você não é o tipo de pessoa que se sente bem com pimentas é melhor não utilizá-las.
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