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As 15 regras alimentares do Ayurveda | Texto baseado no livro Aṣṭāṅgahṛdaya de Vāgbhaṭa

Ayurveda é um conhecimento que foca em como levar uma vida saudável prevenindo e tratando doenças. Após ler esse texto descobrirá porque certas regras são tão necessárias e úteis em nossas vidas!

Segundo o Ayurveda, existem 3 pilares que sustentam a vida humana:

  • Āhāra (alimento);

  • Nidrā (sono);

  • Brahmacharya (domínio sobre os próprios impulsos e uso apropriado da energia sexual).

Um pilar é uma estrutura sólida, com capacidade para definir o estado de saúde de uma pessoa. É a base que garante que o restante continuará organizado e funcionando corretamente. Ingerir um suplemento sem corrigir uma base que foi construída errada ao longo de anos é supérfluo e vai consumir seu dinheiro com resultados pífios.

Por isso, o texto de hoje irá abordar em profundidade esse primeiro pilar, ou seja, Āhāra (alimento). Comece pelo que for mais fácil para você e desenvolva o hábito de revisar esse texto para memorizar e conseguir aplicar cada um dos conceitos que serão descritos.


Os melhores resultados costumam vir no longo prazo, mas algumas dessas dicas podem lhe ajudar hoje mesmo em sua próxima refeição! Por isso leia com atenção aos detalhes e pratique para que isso se torne um hábito saudável em sua vida.


Você sabe a diferença entre Dieta e Regime?

Fazer uma dieta é seguir um estilo de vida, enquanto regime é um conjunto de regras a serem seguidas para se conseguir determinado resultado. Um livro clássico do Ayurveda, chamado Ashtanga Hrdaya (Aṣṭāṅgahṛdaya) do autor Vāgbhaṭa, propõe, no Śūtrasthāna capítulo 8, verso 35-38, um regime a ser adotado para as pessoas que desejam desfrutar de bem estar físico e mental. Se você pratica ou estuda Ayurveda e quer se aprofundar nesse conhecimento, esse livro é uma ótima forma de começar, pois condensa tudo o que é mais importante dessa arte de viver em 1-2 volumes (dependendo da editora). Caso tenha interesse em adquirir, coloquei 3 autores diferentes que traduziram do sânscrito para o inglês nos links abaixo:


  1. Astanga Hrdayam of Vagbhata - Dr. Bulusu Sitaram

  2. Vagbhata's Astanga Hrdayam - Prof. K.R. Srikantha Murthy

  3. Acharya Vagbhata's Astanga Hridayam - Dr Sanjay Pisharodi

Nas próximas linhas você irá descobrir as 15 regras para extrair o maior potencial desse momento tão importante em nossas vidas. Ao longo do tempo perceberá que praticar essas regras realmente tem um poder de tornar nossa experiência gastronômica muito mais agradável e prazeirosa.

Ahara Vidhi (regime alimentar, segundo Vāgbhaṭa)


1. O momento apropriado para ingerir alimentos

De acordo com o autor desse livro (Vāgbhaṭa), o momento apropriado para se fazer uma refeição é APÓS ir ao banheiro (urinar e evacuar), quando a mente está clara (livre de emoções intensas), quando os Doshas estão funcionando normalmente no corpo, quando o arroto está sem nenhum aroma ou sabor desagradável, quando a fome está bem manifesta, quando os flatos se movem para baixo com facilidade (não há gases dolorosos), quando a atividade digestiva está forte/ aguçada, quando os órgãos do sentido estão claros (funcionando apropriadamente), quando o corpo está leve.
Esse é o momento ideal para se fazer uma refeição.

2. Práticas de higiene

O alimento consumido deve estar limpo, livre de sujeira, cabelo, veneno, substâncias adulterantes, fezes, urina, alimentos estragados, etc. Dentro de uma perspectiva moderna podemos incluir não utilizar alimentos com corantes, conservantes artificiais como nitritos, nitratos, sorbatos, sulfitos, realçadores de sabor como o glutamato monossódico, corantes artificiais como o cramelo IV, defensivos agrícolas como o glifosato ou qualquer outra substância com capacidade de nos prejudicar.

O alimento deve ser preparado em um local higiênico, com atmosfera limpa, bem ventilado, livre de moscas, baratas, ratos, etc.

3. Comer alimentos suculentos e facilmente palatáveis

Comer alimentos que não estão duros, assados/torrados e difíceis de mastigar/engolir. Evitar alimentos desidratados. Servir e comer o alimento quente ou morno, pois assim será mais fácil de, mastigar e digerir. Além do sabor ser muito mais agradável.

Segundo o autor, os alimentos assados, desidratados e duros para mastigar não são saudáveis, nem frescos e por isso possuem valor nutricional menor. Tais alimentos são frequentemente difíceis de digerir e vão impedir/prejudicar suas atividades digestivas.

Alimento fresco, preparado no dia, sem contaminação e com alta biodisponibilidade de nutrientes é mais apropriado para nutrir nosso corpo.


4. Comer com consciência

O alimento deve ser ingerido com a devida atenção. Um termo em voga atualmente é “mindful eating”, que significa estar consciente do propósito, prestando atenção e saboreando o momento presente, sem pressa ou apatia.

É um ato de sentir e observar cada um dos 5 sentidos, momento a momento: o sabor e aroma de um alimento recém preparado, o aspecto visual que agrada a visão, um ambiente livre de barulhos desagradáveis e a temperatura e textura dos ingredientes ao entrar em contato com a boca. Tudo isso enquanto se é grato pelo que está no prato e aprecia cada momento com atenção plena.

5. Comer uma refeição que contenha os 6 sabores e predominantemente o sabor doce.

O prato deve conter os 6 sabores com o predomínio do sabor doce, ou seja Madhura Rasa. *Nesse momento é preciso fazer um adendo, pois o que consideramos como sabor doce hoje é diferente do que se considerava há 3 mil anos atrás.

Não está sendo falado sobre comer principalmente confeitaria, brigadeiro, bolos, tortas, biscoito, pudim, goiabada, rocambole, sorvete, doce de leite, etc. Todos esses são extremamente doces pela adição de açúcar.

O sabor doce que está sendo referido aqui, no contexto do Ayurveda, diz respeito aos cereais, frutas, tubérculos, raízes, legumes e algumas verduras. Ou seja, alimentos naturais, integrais e frescos.

Os alimentos com Madhura Rasa (sabor doce) são untuosos, ou seja, são mastigados e deglutidos com facilidade. Isso irá ajudar no peristaltismo intestinal e eliminação das fezes, flatos e urina.

6. Nem muito rápido ou devagar

Evite devorar o alimento muito rápido, sem prestar atenção ao que ou quanto está ingerindo. Ao mesmo tempo, evite também comer muito devagar, como se fosse uma atividade entediante ou desinteressante. Se você não está interessado na comida, provavelmente não está com fome de verdade e deveria esperar (quem sabe ler o item 1 novamente?).


Nem tão frenético que queime a boca. Nem tão lento que a comida esfrie. Essa é a moral da história.

Procure entender qual o motivo para comer com tanta pressa? Essa pressa irá gerar uma tensão desnecessária e prejudicial para a sua digestão.

7. Comer após tomar banho

Não é somente o ambiente e o alimento que devem estar limpos, mas o corpo também. Tomar banho antes de sua refeição principal, além de limpar o corpo irá trazer uma sensação de purificação e clareza no corpo e nos sentidos.
Imagine o qual desagradável seria se você, no meio da refeição, seguindo o item 4 com aplicação descobrisse que não se limpou muito bem após ir ao banheiro? Ou no meio da refeição sentisse que deveria ter ido ao banheiro e não foi? É por isso que o ritual da rotina diária tem uma ordem a ser seguida.

8. Comer com fome

A refeição só deve ser iniciada quando a fome estiver claramente expressa. Quem tem fome, não tem dúvida. O processo digestivo é governado pelo nosso relógio biológico (chamado de ciclo circadiano) e deve ser configurado em alinhamento com o ambiente, as estações do ano, nosso sono, atividade física, humor, etc.

É importante estar atento a esse ciclo, aprender como o nosso corpo funciona ao longo das 24h e adaptar nossa rotina para alinhar todos os fatores descritos acima.

Isso pode ser a diferença entre vivermos doentes (com diversos sintomas desagradáveis) ou com qualidade de vida (experienciando felicidade verdadeira).

9. Comer em silêncio

O momento da refeição é um ato de solitude e silêncio. A atenção deve estar voltada para o corpo e os sentidos. O foco deve ser naquilo que é o mais importante naquele momento: comer. Não deve haver nada mais interessante do que a comida em nossa frente. Isso irá nos permitir ter foco, calma e clareza nos sentidos, além de evitar diversas perturbações, tais como:

  • Desentendimentos desnecessários que podem surgir no decorrer de uma conversa (quantas famílias já não se desentenderam por discutir política no meio de um almoço?).

  • Notícia chocante, tragédia, morte e violência ou assuntos polêmicos que podem passar nas diversas telas que existem hoje em dia (TV, tablet, smartphone, etc.) serão absorvidos como alimento pelos seus sentidos.

  • Uma música, por acaso, começa a tocar e lhe traz à memória aquele fim de namoro mal resolvido, morte de uma pessoa querida ou qualquer outra lembrança que traga pesar para você.

  • Engolir um monte de ar ao comer conversando ou rindo ao mesmo tempo (aerofagia).

  • Uma distração que lhe atrapalhe saber o momento de parar. Como vai ouvir seu próprio corpo e perceber que está saciado se não estiver atento e em silêncio?

10. Caso não coma em solitude, esteja em boa companhia

Se não estiver comendo sozinho, sente-se com alguém que você gosta e que esse apreço seja recíproco. Tenha em mente as outras regras para garantir a saúde da sua digestão e assegurar que será um momento agradável para todos.

11. Lavar as mãos, os pés e o rosto

Culturalmente na Índia muitas pessoas andam descalças e comem com as mãos, por isso é bastante óbvia essa orientação. Ainda assim, no ocidente lavar as mãos antes de comer também é uma prática de higiene importante que deve ser adotada para se evitar contaminação com vírus, bactérias e outros microorganismos invisíveis a olho nu. Essa prática pode evitar diarreias, gripes e infecções respiratórias.

Ainda que nesse lado do planeta nós utilizemos talheres, podemos acabar tocando, sem querer, a boca, o nariz, os olhos ou mesmo os talheres/ canudinhos/ copo e acabar levando contaminação até nossas mucosas (boca, narinas e olhos).

O rosto limpo antes de comer pode evitar que tenhamos vontade de coçar ou encostar os dedos no nariz, boca ou olhos. Além disso também ajuda a trazer clareza e sensação de limpeza aos sentidos.

12. Se alimente somente após prover sua família, funcionários, hóspedes, animais domésticos e qualquer um que dependa de você.

Somente após repartir seu alimento e alimentar as pessoas que você ama e/ou dependem de você é que conseguirá verdadeiramente desfrutar sua própria refeição.

A sensação de dever cumprido, humanidade e compaixão lhe ajudará a ter a tranquilidade mental necessária para comer com calma. A gratidão de todos ao redor também nos ajuda a sermos gratos.

Comer com um bom estado mental é o segredo!

13. Comer uma refeição que seja apropriada a você

Antes de comer, leve em consideração a sua constituição física (prakruti) e se está passando por algum desconforto/desequilíbrio em sua vida (vikruti).


Quer saber mais sobre Prakruti e Vikruti? Leia esses textos:


Além disso, saiba com clareza o que você gosta e o que não gosta.

Ingerir uma comida que gostamos é completamente diferente e pode instantaneamente elevar nosso estado mental e ajudar no item 4 (comer com consciência). A grande questão aqui é que a alimentação padrão ocidental inclui doses exageradas de açúcar, mas esse ainda é o menor dos problemas. A infinidade de realçadores de sabor, adoçantes, corantes e aromatizantes artificiais levou a um entorpecimento do real paladar das pessoas.

Uma pessoa acostumada a comer alimentos ultraprocessados, defumados e repletos das substâncias que acabei de descrever dificilmente sentirá prazer ao comer comida de verdade.

Uma pessoa com o paladar embotado não vai achar gostoso um brócolis ou vagem cozido no vapor, nem mesmo uma deliciosa fruta colhida no pé. Algo que é saudável e fonte de prazer e satisfação.

Então antes de definir o que “gosta ou não”, certifique-se de ter limpado o seu paladar utilizando alimentos naturais de forma recorrente. Comida de verdade é sinônimo de alimentos minimamente processados, sem conservantes, corantes, aromatizantes e outros “aditivos”.

Feito isso, basta escolher, dentre os alimentos saudáveis, aqueles que lhe dão mais prazer e ajudam sua constituição.

14. Coma sem reclamar

Essa sugestão é bastante interessante e resume tudo o que foi dito até agora. Ninguém quer a companhia de uma pessoa ranzinza, então certifique-se de não ser você a pessoa rabugenta sentada na mesa. Não ofenda quem preparou, muito menos reclame da comida que está em seu prato.

Se queixar do alimento que tem vai lhe atrapalhar de atingir um estado mental tranquilo. O resultado será uma digestão ruim e tendência ao adoecimento físico e mental no longo prazo (caso esse seja um comportamento recorrente).

15. Não coma uma refeição muito seca

Além de revisar o item 3, entenda que irá aproveitar melhor sua refeição e capacidade digestiva se reservar 1/2 da refeição para substâncias sólidas (que precisam ser mastigadas), 1/4 por substâncias líquidas (seja na forma de sopas ou alimentos suculentos) e que seja deixado 1/4 de espaço vazio para que o estômago possa se mover normalmente durante o processo digestivo.

Comer uma alimentação suculenta e nutritiva facilita a digestão para pessoas doentes ou saudáveis.

Se você comer, por exemplo, farofa, uma tapioca, pipoca ou torrada que são extremamente secos, tente incluir outro prato suculento ou com maior quantidade de líquido (ex. Sopas, cremes e vegetais suculentos como abobrinha, chuchu, aspargo, acelga, couve chinesa, etc.).

Esses são apenas exemplos, mas cada pessoa deve saber qual o melhor alimento para a própria constituição física. Apenas tome cuidado para não se enganar pensando: "Já que estou comendo pipoca que é seca, vou beber um refri que é líquido e vai dar tudo certo".


O ser humano é capaz de enganar a própria mente fingindo que está cuidando da própria saúde enquanto faz o oposto. Pode também distorcer um conhecimento milenar como esse para satisfazer hábitos ruins que não está disposto a largar. O que ninguém consegue, no longo prazo, é evitar de pagar o preço das escolhas diárias.


A somatória de escolhas que tomamos todos os dias define o resultado que temos hoje, amanhã e depois. Disso não se pode escapar.


Conclusão


Todos nós precisamos de regras para tirar o melhor proveito dos nossos hábitos. É preciso ter clareza e entendimento das informações para que isso seja feito com consistência. O tempero final é a disciplina para repetir os acertos e corrigir os erros.

Conhecer o regime proposto pelo sábio Vagbhata nos mostrou que essas regras são válidas e aplicáveis até os dias de hoje. Pessoas que já estão há um tempo aplicando esse ensinamento são uma prova viva dos benefícios que o estilo de vida proposto pelo Ayurveda podem proporcionar.

Saúde é o produto final daquilo que consumimos e fazemos diariamente. Vida saudável começa com um estilo de vida que inclui hábitos e alimentos favoráveis para cada um de nós.


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Olá, que bom ver você por aqui!

Sou Dr. Alfio Sampieri, meu propósito com esse blog é compartilhar o conhecimento daquilo que é essencial quando falamos de saúde. Por isso apelidei o que faço de Medicina Minimalista. Vivemos em uma era de abundância de conhecimento, contudo ao mesmo tempo somos bombardeados por um excesso de produtos, coisas e informações irrelevantes e por vezes prejudiciais. Assim como você, um dia já me perguntei se aquele suplemento famoso ou medicamento de última geração eram realmente necessários para minha saúde e de meus pacientes. Por isso, meu compromisso é compartilhar tudo o que descobri nesse caminho com verdade e transparência. 

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