A verdade sobre a cúrcuma
Esse NÃO é mais um #post sugerindo que você deva ir correndo comprar cápsulas de #curcumina com #piperina para tratar uma inflamação, síndrome do intestino irritável, Alzheimer ou até mesmo diversos tipos de câncer (cólon, mama, mieloma múltiplo, pâncreas, etc.)!
Que a cúrcuma é realmente poderosa e tem todos esses efeitos e muitos outros (veja foto baixo) já não há dúvida.
O poder medicinal desse rizoma já foi descrito há muito tempo pela Tradicional Medicina Ayurveda, porém foi só recentemente que a ciência de alimentos explorou os detalhes mais íntimos da cúrcuma (isolando seus diversos componentes ativos). A Curcuma longa (nome popular açafrão da terra ou apenas cúrcuma) é uma das plantas medicinais mais estudadas no mundo: esse ingrediente, de uso culinário mundial nos dias de hoje, já foi amplamente testado em laboratórios e em humanos.
Chegou o momento de olhar de forma racional para toda as diversas montanhas de informações, e diferenciarmos a cúrcuma integral (fresca ou em pó) da curcumina (cápsula de substância isolada geralmente prescrita em associação com piperina).
Vamos aos fatos:
A curcumina NÃO é O ÚNICO ingrediente ativo da cúrcuma (Curcuma longa), mas apenas UM dentre os inúmeros componentes ativos desse rizoma. Já foram descobertos 300 componentes diferentes no rizoma de cúrcuma com ações notáveis. Já foi inclusive testado o efeito de um extrato sem curcumina (curcumin-free-extract)¹ e anda assim continuou apresentando efeitos anti-inflamatórios, anti-câncer e anti-diabéticos.
Quando escolhemos o extrato isolado de curcumina, estamos deixando de lado a β-turmerona (uma proteína antioxidante que protege o DNA), Vitamina A, carotenoides, minerais, ukonan A, B, C e D (um grupo de polissacarídeos ² com atividades imunomoduladoras e que já se mostrou também ser benéfico para o sistema imune e protetor contra úlceras gástricas), 2 a 7% de óleos essenciais que também possuem ação #anti-inflamatória e anti-tumoral (diferentes sesquiterpenos como turmerone, zingiberene, etc.).
E agora? Diante dos fatos: o que fazer com essa informação?
Vamos prescrever cápsulas de ukonan A, B, C e D? ou um extrato de curcumenes? Turmerines com turmetonas? Turmeronóis?
Vamos acordar pela manhã e tomar 14 ou 20 cápsulas que tentam imitar a natureza? A #nutrição está aí para nos ensinar a prescrever cada vez mais alimentos, ao invés de dezenas de cápsulas.
Poucos estudos compararam a curcumina com a própria cúrcuma integral, mas um deles comparou o extrato alcoólico de #cúrcuma com a curcumina isolada ³ e mostrou que o extrato alcoólico foi ainda melhor e mais eficiente em produzir o efeito anti-inflamatório e modular de forma benéfica o sistema imune.
Nessa pesquisa, o extrato alcoólico não foi feito com alta tecnologia ultrassônica, micro-ondas ou extração com dióxido de carbono supercrítico: 10g de cúrcuma fresca (triturada no almofariz até formar uma pasta) + 10mL de álcool absoluto (deixados durante a noite no refrigerador à 4°C e coado pela manhã). Esse extrato simples (porém altamente #medicinal) é mais potente do que curcumina isolada ³.
Não se decepcione, caso esteja arrependido de algum dia ter comprado algumas cápsulas de curcumina com piperina ao invés de comprar a cúrcuma fresca que você viu na feira e achou caro🤑. Eu me lembro de já ter comprado cápsulas de curcumina isolada e confesso que já achei caro o preço do rizoma de açafrão fresco vendido em alguns locais. Mas tudo na vida tem um preço, e o valor somos nós que damos. Hoje a cúrcuma fresca, em pó ou na forma de tintura fazem parte tanto do meu ´´Herbal Closet´´ quanto do ´´Medical Cabinet´´ (um dia vou explicar a diferença entre essas relíquias).
A essa altura, você deve estar se perguntando: ´´mas Dr. E a piperina!?!´´.
A piperina corresponde a 5% da pimenta preta (Piper nigrum), sendo o composto responsável pelo sabor picante e, segundo uma pesquisa famosa ⁴, por aumentar em até 2000% a biodisponibilidade da curcumina quando se usa apenas 20mg de piperina (quem nunca ouviu falar disso?).
O que talvez ainda não lhe tenham contado seja que a piperina está presente também no #pippali ou pimenta longa (Piper longum), na peperomia ⁵ (Planta Alimentícia Não Convencional da mata atlântica) e diversas outras plantas da família piperaceae (como mostra essa outra pesquisa) ⁶. Essa família de plantas conta com 3600 espécies, portanto não é difícil de encontrar essa substância de forma natural para fazer parte da alimentação (veja o exemplo das #PANCS: Plantas Alimentícias Não Convencionais).
Então, como aplicar esses conhecimentos no meu dia a dia? Simples: use uma pitada de pimenta preta (Piper nigrum) a cada 1 ou 2 colheres de chá de #cúrcuma (Curcuma longa) durante suas preparações alimentícias diárias. Essa dose será suficiente e segura para colher efeitos fantásticos em sua saúde. Além do mais, doses baixas de curcumina mostraram efeito antioxidante, ao passo que doses elevadas de curcumina aumentaram o estresse oxidativo e levaram a danos no DNA e na mitocôndria (segundo essa pesquisa) ⁷.
Ainda que alguns estudos já tenham demonstrado segurança no uso de doses de até 8g/kg de peso, todo uso de uma substância em doses elevadas deve ser sempre acompanhado de um #médico. Por falar nisso, duas condições médicas merecem atenção ao se utilizar cúrcuma ou extratos isolados (quadros de cálculo biliar e renal).
Doses elevadas devem ser usadas com cautela em quadros de cálculos nas vias biliares (pelo o aumento da contração da vesícula biliar) ⁸, pois isso pode desencadear a chamada ´´dor biliar´´ (dor na região da vesícula biliar). Essa foto do estudo ⁹ mostra que quanto maior a dose de curcumina maior é a contração da vesícula biliar.
Portanto, vale a pena investir no consumo em doses abaixo de 2 colheres de chá por dia.
É interessante notar, ainda, que a utilização de cúrcuma no longo prazo reduz a incidência da formação de cálculo biliar, mesmo em dietas chamadas ´´litogênicas´´ (que predispõem a formação de cálculos biliares) ¹⁰, pois impede a estagnação de bile na vesícula. Impedir a estagnação biliar pode não só impedir a formação de novos cálculos como, em última análise, reduzir a incidência de câncer na vesícula, segundo (GOEL et. al., 2007)¹¹. Outra vantagem é que a cúrcuma também ajuda a aliviar os sintomas de desconforto digestivo (dispepsia)¹².
As pessoas com história prévia de cálculos renais de oxalato (pelo aumento dos níveis urinários de oxalato)¹³ também devem ter cautela. Nossa saúde é construída ao longo da vida, dia após dia: desconfie das promessas de curas milagrosas, questione-se e busque fontes confiáveis de informação.
Sabemos que uma cápsula não vai fazer milagre sozinha, muito menos executar um trabalho que é individual como investir em qualidade da alimentação, atividade física, meditação, qualidade do sono, dentre outros. Saúde e qualidade de vida são bem preciosos que fazem parte do nosso ser, invista com sabedoria para colher frutos duradouros: veja quais suplementos realmente são necessários continuar utilizando, quais podem ser encontrados facilmente nos alimentos e quais podem estar até lhe prejudicando.
Procure ajuda de um médico que tenha conhecimento nessa área para avaliar as reais necessidades de #suplementação ou para fazer ajuste em sua medicação periodicamente.
Compartilhe esse texto com maior número de pessoas a sua volta, e pelas suas mãos auxilie a perpetuar a sabedoria inerente na natureza. Tudo isso também auxilia o algoritmo das nossas mídias sociais a entender a relevância desse conteúdo e fazer com que ele chegue a mais pessoas com sede de conhecimento profundo como você.
Caso queira aprender a fazer uma Masālā (mistura de temperos) com açafrão clique nos links a seguir e saiba como:
https://youtu.be/abG_9VA2PC8 (Masālā Pitta)
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https://youtu.be/IPUSuCAWIkM (Masālā curumim)
Contato
@dr.sampieri
@juliacorreiajc
Referências
¹ DESHPANDE, Shailesh S.; INGLE, Arvind D.; MARU, G. B. Inhibitory effects of curcumin-free aqueous turmeric extract on benzo [a] pyrene-induced forestomach papillomas in mice. Cancer letters, v. 118, n. 1, p. 79-85, 1997.
² YUE, Grace GL et al. Immunostimulatory activities of polysaccharide extract isolated from Curcuma longa. International journal of biological macromolecules, v. 47, n. 3, p. 342-347, 2010.
³ CHAKRAVARTY, A. K. et al. Comparison of efficacy of turmeric and commercial curcumin in immunological functions and gene regulation. International Journal of Pharmacology, v. 5, n. 6, p. 333-345, 2009.
⁴ SHOBA, Guido et al. Influence of piperine on the pharmacokinetics of curcumin in animals and human volunteers. Planta medica, v. 64, n. 04, p. 353-356, 1998.
⁵ GUTIERREZ, Yasmin Valero et al. Natural products from Peperomia: occurrence, biogenesis and bioactivity. Phytochemistry Reviews, v. 15, n. 6, p. 1009-1033, 2016.
⁶ WATTANATHORN, Jintanaporn et al. Piperine, the potential functional food for mood and cognitive disorders. Food and Chemical Toxicology, v. 46, n. 9, p. 3106-3110, 2008.
⁷ CAO, Jun et al. Mitochondrial and nuclear DNA damage induced by curcumin in human hepatoma G2 cells. Toxicological Sciences, v. 91, n. 2, p. 476-483, 2006.
⁸ RASYID, A.; LELO, A. The effect of curcumin and placebo on human gall-bladder function: an ultrasound study. Alimentary Pharmacology and Therapeutics, v. 13, n. 2, p. 245-250, 1999.
⁹ RASYID, Abdul et al. Effect of different curcumin dosages on human gall bladder. Asia Pacific journal of clinical nutrition, v. 11, n. 4, p. 314-318, 2002.
¹⁰ AGGARWAL, Bharat B. et al. Curcumin derived from turmeric (Curcuma longa): a spice for all seasons. Phytopharmaceuticals in cancer chemoprevention, v. 23, p. 351-387, 2005.
¹¹ GOEL, Ajay; KUNNUMAKKARA, Ajaikumar B.; AGGARWAL, Bharat B. Curcumin as ‘‘Curecumin’’. 2007.
¹² MOGA, M. M. Alternative treatment of gallbladder disease. Medical hypotheses, v. 60, n. 1, p. 143-147, 2003.
¹³ TANG, Minghua; LARSON-MEYER, D. Enette; LIEBMAN, Michael. Effect of cinnamon and turmeric on urinary oxalate excretion, plasma lipids, and plasma glucose in healthy subjects. The American journal of clinical nutrition, v. 87, n. 5, p. 1262-1267, 2008.
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