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O Marketing da fome.

Já parou para pensar que durante centenas ou milhares de anos ninguém nunca passou o dia comendo de 3 em 3 horas?

Fome x Dieta x Marketing

Raramente nos perguntamos de onde vem o tsunami de informações contraditórias quando o assunto é #dieta!


Quem foi que estipulou que o "Café da manhã é a principal refeição"? Por que tantas pessoas ainda associam a fome a algo desagradável, quando, na verdade, o prazer de comer com fome é incomensuravelmente maior do que o de comer sem fome?


Incomodado com essas perguntas decidi "mergulhar em águas pouco exploradas" e olhar a parte de baixo do #Iceberg e um dos nomes mais curiosos que descobri é Edward Louis Bernays. Não sei se você já ouviu falar dele, provavelmente não, mas saiba que o que ele fez no passado tem impacto sobre nossas vidas até os dias atuais. Dizem que era o "pai das relações públicas"... Sua forma de trabalho se baseava no princípio de que as pessoas são irracionais, por isso, suas decisões e ações podem ser manipuladas facilmente.


Perceba que para Bernays as pessoas não são apenas manipuladas. Não.


Elas são manipuladas FACILMENTE!!!

Então quem é esse tal de Edward Bernays?

Ele foi um dos responsáveis por nos fazer acreditar que o café da manhã era a refeição mais importante, que começar o dia com uma refeição pesada era melhor e "cientificamente desejável", que "o cigarro é uma ótima ideia para homens e mulheres" (em uma época que somente homens fumavam), que a cerveja é a bebida das pessoas moderadas e diversas outras pérolas! Ou seriam balas de fuzil?


Edward Bernays percebeu, ao voltar da guerra, que as ideias são armas tão importantes como qualquer outra coisa.

Por que a ideia de comer sem fome é uma aberração nos dias atuais

O fato é que a fome influencia os nossos genes e alguém está nos influenciando (o tempo todo) a tomar determinadas atitudes. Por isso, precisamos saber o resultado desse "experimento" social e biológico, pois ele teve e ainda tem implicações na expressão de genes como o SIRT1 (relacionado com a longevidade), LC3A (relacionado com a autofagia e reciclagem das células e componentes teciduais) e um fator neurotrófico que ajuda a manter o nosso cérebro saudável e jovem (BDNF), só para citar alguns dos que já foram extensamente estudados.


Sentir ou não sentir fome. Fazer ou não fazer jejum. A escolha que fazemos todos os dias irá determinar o nosso futuro.

Não é de hoje que tentam colocar conceitos em nossa cabeça que vão contra a nossa fisiologia, que não nos beneficiam e nos estimulam a gastar mais, consumindo itens desnecessários ou prejudiciais a nossa saúde. A grande questão é que isso nunca foi tão fácil.


Da mesma forma, nunca foi tão fácil escapar dessa armadilha, pois a internet espalhou o conhecimento de forma muito abrangente!


Hoje em dia só se ilude quem quer.

Por isso, precisamos falar abertamente sobre esse assunto, buscar as fontes dos conceitos mais arraigados na sociedade e refletir sobre os efeitos disso no curto, médio e longo prazo. Toda vez que um modismo louco aparecer em sua frente "garantindo" resultados rápidos e fáceis, desconfie. Com o passar do tempo os "castelos de carta" costumam cair, outros continuam em pé simplesmente porque há alguém que continua jogando, apostando e ganhando muito com isso.


Mas como ter uma base sólida desse conhecimento e deixar de fazer papel de tolo? Só existe uma maneira: autoconhecimento!


Como adquirir autoconhecimento e ter mais saúde

Autoconhecimento é buscar compreender o próprio corpo. Observar com atenção a essa sensação que chamamos "fome" é uma das formas de autoconhecimento. Não existe revista ou propaganda no mundo que saiba quando VOCÊ está com fome de verdade. Podemos, através de manipulação de dados estatísticos e viés, favorecer o resultado de uma pesquisa para uma determinada direção.


Contudo, ninguém consegue enganar o próprio corpo por muito tempo. Quem luta contra a própria fisiologia uma hora acaba pagando o preço: uma vida cheia de dissabores. Quem trabalha contra a própria genética uma hora descobrirá que estar "adaptado" a uma doença pode ser bastante desagradável. Viver nos ensina que o significado da palavra "adaptado" nem sempre significa algo bom. Se adaptar a uma doença crônica significa que ela ainda não vai lhe matar, mas o fardo a ser carregado será bem pesado.


Não seria melhor entender por que adoecemos?

Viver com sabedoria é buscar a origem dos problemas que enfrentamos para não seguir no erro. Você não precisa de um guru ou professor que lhe ensine a sabedoria da vida. Ao longo do dia, nosso próprio corpo age como um professor muito paciente nos ensinando:


- Isso é sede: vontade de líquidos, secura na garganta e no céu da boca, etc.

- Isso é sono: um processo natural em que o corpo reduz a consciência e as atividades corporais, tornando difícil permanecer com os olhos abertos ou mesmo conversar, se mover, etc.

- Isso é a vontade de urinar: uma sensação levemente desconfortável na região da bexiga, como se algo estivesse cheio de líquido nessa região, tentando empurrar suavemente para fora e esvaziar.

- Isso é a fome: sensação de estômago vazio, com certo calor nessa região, apetite, salivação só de sentir o aroma ou de ver um alimento ou prato de comida.


O corpo também nos ensina o que é o espirro, o arroto, a vontade de evacuar, a náusea e o choro. Se você está doente, seu corpo vai lhe falar tudo o que você está fazendo que melhora ou piora a sua condição. Sim o corpo realmente é um grande professor! Se você leu até aqui é porque também quer aprender a "ler os sinais" do seu próprio corpo.


Por isso escrevi essa série de artigos sobre a fome verdadeira e boa digestão:



Na falta de uma palavra melhor, precisamos nos aprofundar no conceito de fome verdadeira

A maioria das pessoas associa a fome a algo político, à miséria, escassez, privação, mas a fome que estou falando é da fome fisiológica, fome boa, fome gostosa de sentir (pois sabemos que temos condições de aliviá-la). Pessoas em situação de carência e vulnerabilidade passam dias sem comer nada, ninguém deveria se atrever a chamar de "fome" uma inquietação que sentiu por ficar 2-3 horas sem comer.


Fome é uma sensação do corpo associada a necessidade de alimentação. Se não há fome, para quê deveríamos comer? Perceba também que um dos componentes mais importantes da fome é o "estômago vazio". O estômago precisa de um tempo para digerir e esvaziar adequadamente: se você sente dor logo depois de comer ou não consegue ficar 2-3h sem comer pois já sente um desconforto isso deveria soar um alerta de que algo está errado com a sua digestão ou com os alimentos que está consumindo.


É o seu corpo gritando, agora sem paciência, pedindo ajuda, tentando se adaptar às condições que você está oferecendo para ele. Sim tentando, pois na maioria das vezes o que acontece é a pessoa buscar algo para aliviar esse sintoma desagradável. Devemos ser gratos por existir essa opção de alívio rápido que a medicina propõe, mas isso não nos isenta de deixar de buscar a raiz do problema, de construir uma base sólida para o corpo ter mais saúde.


Utilizando os conceitos do Yoga em nossa vida diária

Além da auto-observação, podemos buscar conhecimento naquilo que foi escrito por uma civilização há mais de 3 mil anos no Vale do rio Indo. Essas pessoas prezavam muito pelo autoconhecimento e deixaram verdadeiros tratados escritos para a posteridade. Dentre os diversos textos deixados, tenho me aprofundado naqueles que tratam sobre #Yoga, #meditação e #Ayurveda.


Ao colocar diversos desses ensinamentos em prática, pude perceber que estava diante de algo com grande potencial para trazer o equilíbrio que estava buscando na minha saúde. Um deles foi justamente à respeito da fome:


Para o Yoga, uma pessoa que se alimenta 3 vezes ao dia é chamada de Rogi (alguém doente ou com tendencia a adoecer). Aquele que se alimenta 2 vezes ao dia é um Bogui (uma pessoa normal) alguém que espera sentir fome antes de se aventurar na refeição seguinte. Já uma pessoa que se alimenta apenas 1 vez ao dia é considerada um Yogi, pois é inteligente e capaz de dominar os próprios pensamentos, os impulsos da mente, sustentando o corpo e a própria fisiologia com saúde.


O yoga também recomenda que evitemos nos alimentar após o pôr do sol. Qualquer um pode colocar somente uma dessas recomendações do Yoga em prática e observar como o sono irá melhorar.


Na perspectiva do Ayurveda é um pouco diferente: segundo o Sushruta Samhita, no Uttaratantra cap. 64 sloka 60-61, uma pessoa saudável deve se alimentar 2 vezes ao dia, enquanto que uma pessoa doente, com a digestão prejudicada deveria se alimentar somente uma vez para que o corpo possa se recuperar e a digestão volte ao normal.


Explorando as vantagens de se comer com fome, segundo a ciência atual

A Civilização do Vale do Indo deixou de existir há muito tempo, não há ninguém tentando fazer dinheiro me passando um conhecimento enviezado. Isso não quer dizer que podemos abrir mão da ciência, mas que devemos nos instrumentalizar para saber buscar as fontes e interpretá-las. Pos isso, vou finalizar deixando essas 5 vantagens cientificamente reconhecidas de se sentir a fome verdadeira:

  1. Sobrevivência: A sensação de fome é uma resposta adaptativa do nosso corpo que nos ajuda a sobreviver, garantindo que tenhamos energia suficiente para nossas atividades diárias. A fome nos impulsiona a procurar alimentos para nos fornecer nutrientes e energia. Essa adaptação fez com que os nossos 5 sentidos ficassem mais despertos e acurados no momento em que sentimos mais fome!

  2. Regulação hormonal: A fome está associada à regulação de hormônios importantes como a grelina e a leptina, que ajudam a controlar a ingestão de alimentos e o gasto de energia. A grelina é produzida no estômago e estimula a fome, enquanto a leptina é produzida pelas células adiposas e sinaliza a sensação de saciedade.

  3. Melhora da digestão: A fome estimula a produção de enzimas digestivas e o movimento do trato gastrointestinal, o que pode melhorar a digestão e a absorção de nutrientes.

  4. Proteção contra doenças: Alguns estudos sugerem que períodos curtos de fome podem ter efeitos positivos na saúde, incluindo a redução do risco de doenças crônicas como diabetes, doenças cardíacas e câncer.

  5. Benefícios cognitivos: A fome pode melhorar a função cerebral e a cognição em algumas circunstâncias. Um estudo mostrou que ratos com fome tiveram melhor desempenho em testes de memória e aprendizagem do que ratos que foram alimentados regularmente. Isso pode estar relacionado à liberação de hormônios que estimulam a atividade cerebral.


E aí? Gostou de saber sobre os benefícios da fome? Deixe seu comentário falando sobre sua relação com a comida e a fome no dia a dia! Se quiser saber mais sobre o que Bernays escreveu, recomendo esses dois livros:



Referências

1. Clayton, D. J., James, L. J., & Thackray, A. E. (2015). The effect of breakfast o1. n appetite regulation, energy balance and exercise performance. Proceedings of the Nutrition Society, 74(4), 319-327. https://doi.org/10.1017/S0029665115002093


2. de Castro, J. M. (1994). Family and friends produce greater social facilitation of food intake than other companions. Physiology & Behavior, 56(3), 445-455. https://doi.org/10.1016/0031-9384(94)90267-4


3. de Castro, J. M. (1991). Social facilitation of duration and size but not rate of the spontaneous meal intake of humans. Physiology & Behavior, 49(5), 1125-1129. https://doi.org/10.1016/0031-9384(91)90023-J


4. de Castro, J. M. (2000). Eating behavior: lessons from the real world of humans. Nutrition, 16(10), 800-813. https://doi.org/10.1016/S0899-9007(00)00420-2



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Olá, que bom ver você por aqui!

Sou Dr. Alfio Sampieri, meu propósito com esse blog é compartilhar o conhecimento daquilo que é essencial quando falamos de saúde. Por isso apelidei o que faço de Medicina Minimalista. Vivemos em uma era de abundância de conhecimento, contudo ao mesmo tempo somos bombardeados por um excesso de produtos, coisas e informações irrelevantes e por vezes prejudiciais. Assim como você, um dia já me perguntei se aquele suplemento famoso ou medicamento de última geração eram realmente necessários para minha saúde e de meus pacientes. Por isso, meu compromisso é compartilhar tudo o que descobri nesse caminho com verdade e transparência. 

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